João Amílcar Salgado
segunda-feira, 25 de dezembro de 2023
sábado, 23 de dezembro de 2023
CAUSOS CAUSADORES DE APLAUSOS
João Amílcar Salgado
Minhas
lembranças em O RISO DOURADO DA VILA (2020) ficariam diminuídas se
faltasse o que digo ali das famílias Menezes, Junqueira e Unes. Essa gente
ficou inesquecível para mim pela comovente amizade entre meu pai e o João Menêis,
o José Junqueira e o Alfredo Unes. Joãozinho, o neto do Menêis, se casou com a
Vilma, também Menezes, e se revelou um dos maiores intelectos da Vila, abrilhantado
ainda mais por indisputável memória. Sem sua ajuda, ficariam incompletos pelo
menos três livros, o da Denise Garcia, OS GARCIA FRADES (1990), e os
meus NEPOMUCENO - SINTESE HISTÓRICA (2017) e o citado RISO. Acrescento que
a Vilma concorria em tais dotes com o esposo, os quais ela herdou de seu inapagável
pai, meu padrinho Vavico. No caso do Joãozinho, seu DNA intelectual vem do avô
Menêis, que foi meu fundamental guru - raro fenômeno de esfuziante memória
iletrada. Estudei nele o reforço da verbalização pela abolição da gesticulação,
pois falava fascinante e incansavelmente, sentado imóvel, com as mãos presas
sob as coxas. Já o José Junqueira e meu pai, amigos de juventude, foram os
galãs da Vila, causadores de paixões ostensivas ou bem disfarçadas. De meu
lado, aos dez anos, me apaixonei por minha linda professora Cidinha, nada menos
que a filha do Junqueira. Odiei seu noivo, o competentíssimo engenheiro José
Unes, quando ela nos comunicou que deixaria de ser nossa mestra, para preparar
o casório. O Zé Unes se imortalizou no episódio pedagógico ocorrido quando foi
professor de matemática. É causo que causou aplauso, quando o descrevi aos especialistas
da UFMG. E quem era pai deste outro Zé?
Nada menos que o veloz enxadrista Alfredo Unes, outro queridíssimo companheiro
da saudosa juventude dourada da Vila. A
finalíssima do campeonato de dama, em que um UNES enfrentou um AntUNES, foi relatada
por mim a boquiabertas plateias locais e no exterior. Para completar - as
façanhas de meu imenso amigo Barão, filho do primeiro José, eu as releio com os
olhos úmidos, me perguntando por quê nos deixou tão cedo...
terça-feira, 19 de dezembro de 2023
PEDRO
I COMPOSITOR
Em
“O RISO DOURADO DA VILA” (2020), digo que a elite europeia do século 19 ficou
tuberculosa e, não havendo ainda medicamento eficaz, simplesmente glamurizou a
doença - no teatro, na ópera e em livro: A DAMA DAS CAMÉLIAS (Dumas, 1848), LA TRAVIATA
(Verdi, 1853), O DILEMA DO MÉDICO (Shaw, 1906) A MONTANHA MÁGICA (Mann, 1924) e
O MOLEQUE RICARDO (Rego, 1935). Estudei então o efeito erótico da infecção. O
caso mais impressionante é o de Pedro 1º. Fui presenteado em Portugal com o
livro que transcreve sua necrópsia. O homem foi devastado pela tuberculose e
ainda assim foi insaciável mulherengo. Agora a cravista brasileira Rosana
Lanzelotte lança um livro muito importante, que documenta ter sido ele multi-instrumentista
(clarim, flauta, violino, fagote, trombone e cravo) e compositor de hinos
profanos e religiosos e até de modinhas. As que dedicou à Marquesa de Santos
foram destruídas ou ocultadas. O
religioso irlandês Robert Walsh, em 1829, disse dele: “A atividade a que ele mais se devota é
a música, pela qual ele desenvolveu, em uma idade precoce, uma forte
predileção, e mostrou um decidido talento. Ele não apenas aprendeu a tocar uma
variedade de instrumentos, mas compôs, eu fui informado, muitas das músicas
para a capela de seu pai; e a peça mais popular agora no Brasil, tanto as
palavras quanto a música são de sua composição, atestando seu talento”. Era
também dançarino do fado luso-cigano, da modinha brasileiro-lusa e do lundu
angolano. Paulo Rezzutti no livro “DOM PEDRO – A HISTÓRIA NÃO CONTADA”
(2015) documenta tudo isso, mas seu livro não teve a repercussão que tem agora
a pesquisa da Rosana.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2023
COMETI GRAVE ENGANO SOBRE OS PAIS DE
ANA PROFETISA
João Amílcar Salgado
Em
Nepomuceno tivemos dois irmãos casados com duas irmãs. Meu bisavô José Augusto
Ribeiro se casou com minha bisavó Mariana Regina Correa Lima, enquanto seu
irmão Joaquim Ribeiro se casou com Ana Profetisa Correa Lima, irmã de Mariana. Ambas
são netas do Casaquinha (meu tetravô), pai da Maria Regina Souza Correa Lima
(minha trisavó), mãe das duas. Em comentário a postagens da querida Verinha
(Vilela Gonçalves de Oliveira) e de seus amigos, me confundi com os frequentes
casamentos entre primos de nossa família. Pedindo mil perdões, aproveito para
mostrar a foto afinal fornecida por esta brilhante prima e escritora. Continuo
procurando os retratos de meu bisavõ e de minha bisavó. Tenho duas pistas: o
retrato dele saiu em O PROGRESSISTA, quando faleceu vítima da pandemia
gripal de 1918; e o dela pode existir em Três Pontas, onde estudou.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
SÃO TIAGO E A LOBA
JOÃO AMÍLCAR SALGADO
O habitante da Vila deve estar
consciente de que nossa cidade nasceu sob forte influência galega. Hoje muita
gente vai passear em Portugal, mas deve programar também visitar a Galiza, bem
perto dali, e ali visitar Santiago de Compostela. Aqui perto temos a cidade de
SãoTiago o que confirma tal influência. Outra confirmação está no célebre poema
BARBARA BELA do poeta inconfidente ALVARENGA PEIXOTO. Nele ele diz que sua
amada é “DO NORTE ESTRELA,
QUE O MEU DESTINO SABES GUIAR”
(ele e ela parentes de nepomucenenses). Compostela significa “campo da estrela polar” referência
astrológica para o caminho de São Tiago, que liga o mundo a Compostela. Essa
estrela-guia, que guiou os Reis Magos no Natal, é a mesma estrela-guia dos
primeiros e principais navegadores da história.
Um dos estudos que faço é sobre o
sincretismo religioso druída-apóstolo. A
família Correa da Vila parece ter forte genética celta e a Salgado sueva, ambas
de origem galega. As crenças céltico-druidas impregnaram o cristianismo inicial,
inclusive no respeito à natureza (estrela polar), à flora (fitoterapia) e à
fauna (animais domésticos e selvagens, como o lobo). Uma das passagens
legendárias ligadas a Tiago diz que os discípulos dele, Atanásio e Teodoro,
foram até à Rainha Loba pedir que ela indicasse um lugar para sepultar o apóstolo.
Ela, depois de se esquivar, acabou indicando um desvão de seu próprio palácio, que
acabou transformado na Catedral de Compostela.
À DONA BÁRBARA HELIODORA
Bárbara bela, do Norte estrela, / Que
o meu destino sabes guiar, / De ti ausente triste a suspirar. / Por
entre as penhas de incultas brenhas / Cansa-me a vista de te buscar; /
Porém não vejo mais que o desejo, / Sem esperança de te encontrar. / Eu
bem queria a noite e o dia / Sempre contigo poder passar; / Mas
orgulhosa sorte invejosa, / Desta fortuna me quer privar. / Tu,
entre os braços, ternos abraços / Da filha amada podes gozar; / Priva-me
a estrela de ti e dela, / Busca dous modos de me matar!
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
A FAZENDA DA LAGOA
E SUA VERDADEIRA HISTÓRIA
João Amílcar Salgado
O
casarão da Fazenda da Lagoa deve ter sido construído entre o final do século 18
e o início do 19, pelo capitão Manoel Joaquim da Costa Vale, meu tetravô. O
casarão era chamado de Sobradinho e a fazenda era enorme, maior ainda se somada
às suas fazendas do Sapé Grande, do Ribeirão São João e às vastas propriedades
do genro Antônio José de Lima, o Casaquinha. O capitão possuía diversas outras
fazendas, não só em cidades vizinhas, mas no Triangulo Mineiro e no noroeste
paulista, além de outras barganhadas ou transferidas a diversos parentes.
Parece também que ocultava arrobas de ouro sob o morro situado na margem oposta
da lagoa, de modo a ser vigiado das janelas. A demolição do casarão e da sede
da fazenda da Santa Cruz, erguida em 1823 pelo Casaquinha, é lamentada por
todos os estudiosos da história da Vila. Na ilustração vê-se a majestosa casa retratada
pela talentosa artista nepomucenense Alicemara Silva, em 1989, com o acréscimo
imaginário da lagoa.
O
casarão foi vendido a vários donos e foi até escola (nela foi alfabetizado o
Didi do Restaurante). Os sucessivos proprietários, por desconhecerem sua
verdadeira história, geralmente consideram o casarão como tendo pertencido,
desde o início, a seu respectivo ramo familiar.
A Fazenda da Lagoa consta de meus livros NEPOMUCENO – SÍNTESE
HISTÓRICA (2013), O RISO DOURADO DA VILA (2020), do livro do Lomez
sobre a ferrovia de Três Pontas, do livro do Arthur Campos sobre a família
Ribeiro de Oliveira Costa, da publicação de Firmino Costa sobre a família Costa
Vale e das publicações do Projeto Compartilhar na internete. Breve será
publicado o livro das irmãs Evangelina e Licínia Alves Vilela sobre sua família,
que inclui os trisavós Manoel Joaquim e Casaquinha. Uma lista de descendentes e
admiradores de Manoel Joaquim Costa está sendo elaborada, com o objetivo de
conseguir a restauração integral do casarão, inclusive da própria lagoa. Muitas
adesões são esperadas.
quarta-feira, 29 de novembro de 2023
A
LUTA CONTRA O AGROVENENO
João Amílcar Salgado
Como professor
titular de Clínica Médica da UFMG e principalmente, por longos anos, professor
de semiologia médica, fui talvez o primeiro a denunciar a indústria e o abuso
do agroveneno no Brasil. Um de meus brinquedos de infância era rodar a turbina
da máquina de tirar formiga que inoculava arsênico em nossos formigueiros.
Tratei inúmeros casos de intoxicação em todas as suas variantes. Verifiquei que
os médicos eram propositalmente desinformados sobre o assunto. Contabilizei
intoxicados tratados como neuróticos. Fui coorientador de meu primo Ronan Vieira,
intensivista da Unicamp, que fez a
primeira tese sobre cuidado intensivo de intoxicados. Ele e eu éramos do
agronegócio e, portanto, com isenta autoridade técnica nesta área. Um de meus
amigos de juventude formou-se na Ufla e, logo a trabalho, pegou o apelido de
Blenco. Interpelei-o e ele respondeu: “é triste, mas sou bem pago para
intoxicar o máximo de gente possível...” Nessa época houve a primeira denúncia
nacional de intoxicação intencional de toda uma comunidade indígena com
agroveneno. Nos últimos quatro anos 1629 agrovenenos foram liberados em 1158
dias no Brasil, ou seja, mais de um por dia. A intimidação que o agronegócio
impõe aos políticos, inclusive ao atual governo, significa uma tragédia.





