João Amílcar Salgado

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

 


HOMENAGEM AOS CACIQUES PICHUVY, RAONI E TIBIRIÇÁ

João Amílcar Salgado

O médico e pescador  mineiro José Sílvio Resende foi pescar em Rondônia, onde uma antropóloga pediu que examinasse um cacique até então tratado de tuberculose, sem qualquer melhora. O doente chamava-se Pichuvy e¸ dias depois, declarou que a divindade de seu povo Cinta-Larga trouxe o doutor branco para salvá-lo da morte certa. De fato, José Sílvio era o maior cirurgião torácico do país e de pronto diagnosticou bronquiectasia. Trouxe Pichuby a Belo Horizonte, operou-o, com cura total, e recebeu o título de compadre dele e benfeitor do povo Cinta-Larga, com troca anual de presentes. O nativo acabou autor de um livro em seu idioma intitulado HISTÓRIAS DE MALOCA ANTIGAMENTE (1988), por Pichuvy Cinta-Larga. O povo Cinta-Larga teve a ventura ou desventura de viver sobre gigantesca jazida de diamante. Sob a impiedosa ganância do garimpo ilegal, sofreu várias incursões genocidas, a maior das quais em 1973. Relembro tudo isso hoje, 12/11/25, quando ocorre em Belém do Pará a CÚPULA DOS POVOS (povos indígenas de todo o planeta). Faço esta homenagem a Pichuvy e também ao cacíque Raoni Metuktire, que comparece ali aos 96 anos. Este é do povo caiapó, que habitou originalmente a área de Nepomuceno e foi expulsa daqui, após macrogenocídio ocorrido no sul de Minas, no Triângulo, no noroeste paulista e em Goiás. Faço-o também em nome do cacique Tibiriçá, de quem sou descendente direto, há mais de 20 gerações, e de quem conservo, com muita honra, o gene dominante dos olhos apertados, razão de seu nome.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

 


DRUMMOND, ROSA E BANDEIRA,  DÉCADA DE 60

 

João Amílcar Salgado

 

DOIS MINEIROS E UM PERNAMBUCANO FÃ CONFESSO DE MINAS.

 

MANUEL BANDEIRA ERA AMICÍSSIMO DE AFONSO PENA JÚNIOR.

 

PENA JÚNIOR PREZAVA MUITO SEUS PRIMOS RIBEIRO LIMA DE NEPOMUCENO. NO GRUPO ESCOLAR “CORONEL” HAVIA ESTE RETRATO DELE

 

CARLOS DRUMMOND FOI CONTEMPORÂNEO DE JOÃO SALGADO Fo NO CURSO DE FARMÁCIA DA ATUAL UFMG.

 

JOÃO GUIMARÃES ROSA FOI COLEGA DE TURMA DE RUBEM RIBEIRO NA ATUAL UFMG

 

domingo, 2 de novembro de 2025

 


CARLOS E JOÃO AMÍLCAR SALGADO NA CÂMARA MUNICIPAL DE NEPOMUCENO

João Amílcar Salgado

Em 17/10/25, a Câmara Municipal de Nepomuceno recebeu os médicos Carlos Amílcar Salgado e João Amílcar Salgado, em memorável sessão sobre o aperfeiçoamento da atenção à saúde local. Foi uma deferência atenciosa a ambos, reconhecidos por muitas famílias da Vila pelo socorro médico, tanto no atendimento de casos individuais quanto em providências institucionais. Foram efusivamente aplaudidos em seus pronunciamentos. Esta data será sem dúvida um marco, mercê de tudo de bom que nossa gente ansiosamente aguarda. Em nome do presidente Túlio Marangoni Morais , do Ostinho e das gentis Liliane Baldoni e Alexsânia Alves, Carlos e João cumprimentam e agradecem a todos os vereadores e funcionários desta ilustre casa legislativa.

João Amílcar, na qualidade de historiador da cidade, autor do livro NEPOMUCENO - SÍNTESE HISTÓRICA (2017), diante do elogio a seu filho, por seu desempenho técnico no alto escalão do Ministério da Saúde, lembrou os méritos dos Vilelas da Vila. De fato, é digna de comemoração a presença recente de membros desta família em altos cometimentos nacionais. Observou que Carlos  Amílcar (Vilela) Salgado tem a honrosa companhia do ministro Afrânio Vilela, guindado ao Superior Tribunal de Justiça, do cientista e ex-reitor de Viçosa Evaldo Vilela na presidência do Conselho Nacional de Pesquisa, do presidente do CTNbio Edilson (Vilela) Paiva, do brilhante cirurgião da UFMG Manuel Jacy Vilela, co-autor do vitorioso planejamento brasileiro  de transplante de órgãos, e do cientista Eduardo Garcia Vilela, estrela maior da gastroenterologia mineira e nacional. Acrescente-se o ator, escritor e cineasta Selton (Vilela) Melo, astro principal de AINDA ESTOU AQUI, premiado com o Oscar de melhor filme internacional de 2025.

Se tudo for confirmado, não haverá mais limitação financeira para a saúde do município, inclusive será honrado o visionário pioneirismo de nosso queridíssimo Dr. Juca (José Augusto de Oliveira Lima), no início do século 20, por ocasião do nascedouro de nossa Santa Casa. No meio daquele século, seu consanguíneo João Amílcar, um dos formuladores do Sus,  militou ali muito jovem, na premonição  da façanha do filho Carlos, ora celebrada.

Na 2ª  foto: Brenda, João, Jorcelina, Ana Luiza e Carlos

 

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

 



 

SÔNIA – COMO ESQUECÊ-LA?

João Amílcar Salgado

Quando o célebre Bar do Michel foi fechado, a Vila foi brindada com o Bar do Sôvinico (Alvim Reis), com duas ótimas notícias: as filhas do dono eram lindas (três delas casadas com parentes meus: Milton/Ivone, Odair/Helena e José/Lalá) e suas mesas-de-sinuca eram de nível profissional. Para meu pai, a ausência do amigo Michel foi compensada por mais um udenista na roda da farmácia. Bem mais tarde, a Vila foi felicitada pelos bisnetos do dono: os talentosíssimos Danton e Selton Melo, consanguíneos de meus filhos, dos quais e dos irmãos a amorosa Sônia ajudou a mana Selva a cuidar.

Mais uma dádiva à cidade: o filho Paulo Reis, o Marolo, além de braço direito do Sôvinico, se transformou, graças ao usufruto da sinuca, no maior astro deste esporte no Sul de Minas. Por minha vez, fui colega de ginásio e amicíssimo do irmão mais jovem Haroldo. Mais que isso, fui namorado adolescente da neta Sônia, inseparável de minha irmã Neusa e de magnético encanto. Incrível caber nas duas meninotas tanta meiguice e tanto romantismo!...

Não faz muito tempo, minha querida prima Helenice me recebeu, junto a amigas, para um café-da-tarde. Fiquei feliz de reencontrar ali a Sônia, a quem manifestei meu pesar pelo falecimento do meu amigo Luiz. Ela revelou que proporcionei a ele as últimas boas risadas de sua vida. Pedia a ela que lesse a lista de apelidos de meu livro O RISO DOURADO DA VILA. E fez isso por repetidas vezes. Emocionado, lembrei-lhes quão querida era a família dele, pois fui colega de turma ginasial do Tião, do Hair e da futura esposa deste, a encantadora Julita. E a bela irmã deles, Maria Helena, se casou com meu primo Dane.

Eu tinha 13 anos, quando a Neusa e a Sônia aguardaram nossa farmácia fechar e foram inspecionar um tesouro para elas: a vitrine de perfumes, esmaltes e batons. De lá vieram com um batom vermelho rutilante. Logo estavam com os lábios de vampe, me chamando pela casa. Eu estava lendo “A Guerra dos Mundos” (de H. G. Wells) e as duas me disseram que eu era a cobaia do batom. Cada uma me beijou num dos lados da face. Fomos para o espelho e achamos lindo! Exigi que limpassem aquilo e fui para o footing na Rua Direita. Na porta do Sôvinico, quem aparece? A filha Lalá que me vem cumprimentar e diz: Oh quem te beijou? Quem beijou limpou, mas a marca ficou! Quem foi? Sendo ela tia da Sônia, fiquei mudo e saí de fininho. No dia seguinte as duas queriam repetir a coisa com outros batons. Eu disse que só aceitaria se a Sônia me deixasse beijá-la na boca. Ela deixou e exclamou: “ delícia!” e eu respondi: “sua boca tem perfume de gardênia...” Desde então as músicas A LENDA DO BEIJO e PERFUME DE GARDENIA, passaram a ser nossas, de nós três - e minhas até hoje. Cliquem nos youtubes abaixo.

Em visita a Nova Friburgo, fui presenteado com três mudas de gardênia e uma delas perfumou nosso jardim por largo tempo. A Sônia passou em frente e pedi que viesse sentir aquele perfume. Ela veio e se lembrou de tudo. Sendo ela viúva e eu desimpedido, beijei-a mais uma vez. E o amor ficou “eterno novamente”.

 

https://youtu.be/pqowd8ZIFjY?list=RDpqowd8ZIFjY

https://youtu.be/1QTgqPBXil8?list=RD1QTgqPBXil8

https://youtu.be/q8cfnPc7Cx4?list=RDq8cfnPc7Cx4

 

VOLIBOLISTAS: Renilze, Telma, Maria, Ivone, Marlene, Hulda, Glória e Sõnia. A Simone, replica da beleza da mãe, me prometeu fotos adicionais.

 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

 



NEPOMUCENO E O METANOL

João Amílcar Salgado

A primeira anotação do metanol na história de Nepomuceno parece datar da criação da cachaça MILONGUITA na década de 40 do século 20, pelos amigos João Salgado Filho e José Antunes Jr (Zequinha).  O farmacêutico Sargado, diante de seu círculo de admiradores, explicou como seria uma cachaça de altíssima qualidade e que um cuidado especial seria evitar que contivesse metanol, o álcool indesejado.  Pouco tempo depois, nos degraus dali, morreria o popular ébrio Cai-Nágua e o dono diagnosticou óbito certamente por metanol. Enquanto o padeiro Eurico César de Almeida Antunes, irmão do Zequinha, insistia no nome Milonguita para a nova aguardente, a turma relembrou as pingas famosas da Vila e a campeã entre elas era a ZUEIRA. Mas o Sargado alertou sobre o nome Zueira, talvez popularizado por alusão a lotes contaminados por metanol. Para atender a alta demanda, o fabricante poderia ter descuidado do controle de qualidade e o nome adotado apontava consequente afecção neurológica.  Outro ébrio era o Govêia, de forte pendor para sambista, que faleceu em coma, pouco tempo após passar a ingerir álcool puro.

            Como pesquisador, logo me interessei pelo espectro sindrômico do alcoolismo, principalmente as causas das variantes clínicas. Isso trouxe duas consequências principais: o movimento antimanicomial, iniciado por minha cooperação com o inesquecível amigo Luiz Cisalpino Carneiro, e minha investigação sobre a relação entre doença de Chagas e o beribéri. Anos depois, verifiquei que muitos pacientes de úlcera péptica burlavam a dieta proibitiva de bebida alcoólica, sem prejuízo à cicatrização da lesão. Para comprová-lo, o mesmo Luiz montou talvez a primeira mensuração da alcoolemia no país, mas os tubos de sangue cuidadosamente coletados, sofreram pane no congelamento. Bem mais recente foi a criação do bafômetro.

Em 1974 iniciamos o ensino contraconsumista na Ufmg. Em 1976 foi instituído o primeiro Procon em São Paulo (de inocuidade extrema). Em 1987, foi criado o Idec (Instituto de Devesa do Consumidor, idem). Em 1988 foi estabelecido o Sus (Sistema Único de Saúde - deveria ser único, mas não é) e em 1990 o Código de Defesa do Consumidor (defesa sem defensor). Em 1991, iniciamos na Revista da Ammg a tradução da Medical Letter (desde 1958) e do Drug & Therapeutic Bulletin (desde 1962), que levou ao Boletim de Terapêutica e Medicamentos do Inamps, graças a Adelmar Cadar. Foi criminosamente interrompido no governo Newton Cardoso.  Em 1999, por proposta nossa para ser nossa Fda, foi criada a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária – que, enfim, não vigia nem a publicidade, nem a falsificação, nem a adulteração, nem o contrabando e nem o narcotráfico). Tais aparentes boas iniciativas atraíram respostas contrárias, a começar pela do pelego Magri que, como ministro do trabalho de Collor, em 1990, anunciou que ia desregulamentar tudo.

Desde então, pouca coisa funcionou desejavelmente. Entre inúmeros escândalos, as mortes por metanol são mera ponta do aicebergue consumista generalizado. Participei no Senado, representando a convite o Cfm, de um debate em que o então ministro Magri, olhando para mim, garantiu que qualquer cidadão, mesmo analfabeto, seria autorizado por ele a exercer a profissão de médico.

domingo, 21 de setembro de 2025

 



ROBERT REDFORD, SÔNIA BRAGA E WALTER SALLES JR

João Amílcar Salgado

Em 1986, nos EUA, eu havia aparteado um conferencista sobre o significado do termo “latino-americano”. Pediram-me para fazer uma exposição que pormenorizasse meu aparte. Comecei pela geografia, mostrando que, além do México,  grande parte da América do Norte é de origem latina, ou seja, a porção francesa do Canadá e as porções francesa e espanhola dos EUA. Já a soma das Américas Central e do Sul é quase toda ibero-americana. Mesmo a origem bretã-germânica da América do Norte inclui o componente celta, que também é componente ibérico. No Brasil, a população branca do nordeste e do sudeste é fortemente galega, isto é, celta. Observei a grande afinidade entre os brasileiros e os norte-americanos de origem irlandesa, escocesa e galesa. Por outro lado, as três Américas foram colonizadas sob forte contingente judaico, indígena e negro. Há ampla similaridade indígena, paralela às formidáveis civilizações andina e maia. Comparei sudaneses do norte e bantos do sul, na África e nas Américas.  Citei a obra “O PRESIDENTE NEGRO” de Lobato (antecipador de Obama).

Sugeri que a maior aproximação entre os EUA e o Brasil aproveitasse tais fatos. Pediram-me nomes que eu incluiria em tal intercâmbio. Respondi que citaria dois lamentavelmente mortos e dois vivos: o cineasta John Ford, o escritor Ernest Hemingway, o polímata Alex Haley e o cientista Carl Sagan. Daí que participei de providências para a frustrada vinda de Sagan à UFMG.

Outro estadunidense que na época não era bem conhecido é Robert Redford, um galã com criativa inquietação social. Incluo-o na citada lista, por duas ligações com o Brasil: seu romance com a fascinante atriz Sonia Braga e seus projetos junto ao genial cineasta sulmineiro Walter Salles Jr.

 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

 


QUANDO MENINO INVENTEI O PATIM MOTORIZADO

João Amílcar Salgado

Quando menino, fui cortar cabelo no Clide Padilha. Enquanto esperava, 2 ou 3 amigos vieram conversar comigo.  O Baiano Oscar também esperava e acompanhava nossa conversa. Comentávamos o rinque de patinação que o Socônego inaugurou em frente â matriz. Falei então que no futuro aqueles patins teriam motor. O Vando Tambini perguntou se aquilo seria possível. Respondi: não tinha o relógio da igreja e depois inventaram o relógio de pulso?, não tinha o trem-de-ferro e depois inventaram o automóvel e a motocicleta?, então tem o patim e estou inventando o patim com motor. O Baiano falou pro Clide: esse menino acaba de falar a maior bobagem que eu já ouvi na minha vida... Diante daquele homem, que me pareceu um grandalhão, fiquei vermelhinho e não falei mais nada. Tempos depois, quem se tornou um grande amigo meu? O Baiano.

Havia a pesada filmadora do Bembém e depois inventaram a leve filmadora portátil – e desta talvez a primeira da Vila foi a minha. Ironicamente, no carnaval filmei o passista Baiano, que chorou de alegria quando lhe mostrei a cena. Passei a ser o seu médico ocasional e seu interlocutor por horas. Pouco antes de falecer me disse: tenho o maior luxo com meu sítio e você é o único que vai cuidar dele como eu cuido, te vendo. Cometi o grande erro de não o ter adquirido.  Relembro tudo isso agora, quando o assunto do momento é a polêmica dos patinetes, não apenas motorizados mas silenciosamente elétricos.