João Amílcar Salgado

sábado, 30 de dezembro de 2023

 


FREI LUÍS SALGADO PRECURSOR DO NÃO-É-NÃO

João Amílcar Salgado

Em 30/12/23 passa a vigorar A LEI DO NÃO-É-NÃO contra o assédio à mulher. Não pode haver melhor oportunidade para homenagear um religioso esquecido na história brasileira. Trata-se do carmelita luso frei LUÍS SALGADO DE CASTILHO (ou frei Luís de Santa Teresa). Nasceu em Lisboa em 1693, diplomado e professor por Coimbra, em Filosofia e Teologia, quando brilhou por sua rara inteligência e erudição. Logo optou por ser carmelita descalço. Passou a admirado mestre no Colégio de São José de Coimbra. Foi nomeado Bispo de Pernambuco em 1738, função que exerceu de 1739 a 1753. Foi verdadeiro pastor, visitando todas as povoações do interior e executou reformas da moral e dos costumes, sobretudo a protecção das escravas contra os despudores de que eram vítimas. Tutelou casas de clausura femininas, como o Recolhimento do Paraíso dos Afogados e o de Nossa Senhora da Conceição de Olinda, e envolveu-se pessoalmente em atritos com os escravocratas, nos quais representou e defendeu as escravas. Seus oponentes  exigiram do rei D. José sua remoção e foram atendidos. De volta a Lisboa, retirou-se para a Quinta da Granja da Paradela (ou do Barruncho), em Loures, propriedade de sua sobrinha Antônia Mariana Teresa Salgado de Vargas, onde morreu em 1759. Está sepultado na capela-mor do Convento de São João da Cruz de Carnide.

Nepomuceno, cidade conhecida pelo grande número de membros do clã Salgado, deve incluir o carmelita frei Luís Salgado no panteão de seus oragos (S. J. Nepomuceno, S. Miguel, S. Antônio, S. Vicente e N. S. Aparecida) e rogar ao papa Francisco sua beatificação. Este notável precursor da lei do Não-é-Não deve ser declarado cidadão honorário póstumo da Vila, ao lado de outros que venho sugerindo. Frei Luís teve um irmão também carmelia, frei João da Cruz Salgado de Castilho, que tem a ver com Minas Gerais, pois, em 1739, se tornou bispo da diocese do Rio, que na época abrangia Minas e São Paulo. Adoentado voltou a Portugal, deixando fama de santo.

 

 

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

 


REVISTA MÉDICA CONFESSA RACISMO

João Amílcar Salgado

Em 7/12/23 o New England Journal of Medicine (NEJM), referência minha e de todos os cientistas, publicou minucioso texto sobre a relação desta revista médica com o racismo. Apresentamos aqui nossos parabens a seus editores, por este mea-culpa.

Os colonizadores britânicos trouxeram os primeiros escravos africanos para os futuros EUA (Virginia), em 1619. Em 1810 havia 1,2 milhões de escravos, que atingiram 4 milhões em 1860. Um quinto  ou um sexto  deles morriam anualmente. Os médicos da época possuiam escravos, serviam em navios negreiros, possuiam fazendas com escravos e usaram os corpos de escravos para ensinar anatomia e para pesquisa. O NEJM foi fundado em 1812 por dois médicos de Boston, John Warren e James Jackson, acrescidos de Walter Channing. Pertenciam a familias enriquecidas, inclusive com a escravidão, no negócio de rum, açúcar, melado, algodão e madeira. Os primeiros artigos do periódico eram depreciativos aos negros e abertamente racistas. Publicou relato de viagens de médicos, um deles até Nova Orleans, que encontrou no Alabama um colega que lhe disse que os mulatos eram híbridos degenerados e inviáveis, os quais deviam ser submetidos ao trabalho mais duro, antes que a própia natureza os matasse. Assim o NEJM e a literatura médica de então  normalizavam e muitas vezes justificavam o racismo.

E aqui no Brasil, neste mesmo mês de dezembro, revela-se que a população brasileira ousou, no recente censo, também fazer uma confissão análoga: somos mulatos.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

 


 
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EIS UM HERÓI ENTRE OS MAIORES – e que isso tem a ver com Nepomuceno?
João Amílcar Salgado
    Só de ter inventado a palavra AGROTÓXICO, em 1977, ADILSON DIAS PASCHOAL já é heroi. Ratificou o vocábulo no livro PRAGAS, AGROTÓXICOS E A CRISE AMBIENTAL – PROBLEMAS E SOLUÇÕES (1979). Criou na USP a disciplina de agroecologia (cátedra de Agricultura Orgânica da Esalq), ao lado da também heroína, a austríaca Ana Maria Primavesi, que passou quase a vida toda no Brasil. O termo foi legitimado pela lei 7802 de 1989, que dispôs sobre a pesquisa, experimentação, produção, embalagem, rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, propaganda, uso, importação, exportação, destinação final, registro e a fiscalização de AGROTÓXICOS. Quase sempre com óculos de hastes finas, magro e um bigode grosso branco combinando com o cabelo, Adilson é um homem formal e tem o hábito de falar apoiando as pontas dos dedos de uma mão na outra. Sua relação com Nepomuceno vem de sua cidade natal, Casa Branca, fundada por nossa gente das famílias Garcia, Vilela e Lima. Outras cidades da região tiveram a mesma origem, incluindo as famílias Costa e Junqueira, como Mococa, Barretos, São José do Rio Pardo e Franca. Em Ohio, EUA, na universidade onde o Adilson estudou, falei sobre seu mérito extraordinário. Adilson foi professor de vários de meus primos e conterrâneos, na Esalq. Quem assinou a lei citada foi o Ministro da Agricultura Iris Rezende, parente dos Resende da Vila.

sábado, 23 de dezembro de 2023

 


CAUSOS CAUSADORES DE APLAUSOS

João Amílcar Salgado

Minhas lembranças em O RISO DOURADO DA VILA (2020) ficariam diminuídas se faltasse o que digo ali das famílias Menezes, Junqueira e Unes. Essa gente ficou inesquecível para mim pela comovente amizade entre meu pai e o João Menêis, o José Junqueira e o Alfredo Unes. Joãozinho, o neto do Menêis, se casou com a Vilma, também Menezes, e se revelou um dos maiores intelectos da Vila, abrilhantado ainda mais por indisputável memória. Sem sua ajuda, ficariam incompletos pelo menos três livros, o da Denise Garcia, OS GARCIA FRADES (1990), e os meus NEPOMUCENO - SINTESE HISTÓRICA (2017) e o citado RISO. Acrescento que a Vilma concorria em tais dotes com o esposo, os quais ela herdou de seu inapagável pai, meu padrinho Vavico. No caso do Joãozinho, seu DNA intelectual vem do avô Menêis, que foi meu fundamental guru - raro fenômeno de esfuziante memória iletrada. Estudei nele o reforço da verbalização pela abolição da gesticulação, pois falava fascinante e incansavelmente, sentado imóvel, com as mãos presas sob as coxas. Já o José Junqueira e meu pai, amigos de juventude, foram os galãs da Vila, causadores de paixões ostensivas ou bem disfarçadas. De meu lado, aos dez anos, me apaixonei por minha linda professora Cidinha, nada menos que a filha do Junqueira. Odiei seu noivo, o competentíssimo engenheiro José Unes, quando ela nos comunicou que deixaria de ser nossa mestra, para preparar o casório. O Zé Unes se imortalizou no episódio pedagógico ocorrido quando foi professor de matemática. É causo que causou aplauso, quando o descrevi aos especialistas da UFMG.  E quem era pai deste outro Zé? Nada menos que o veloz enxadrista Alfredo Unes, outro queridíssimo companheiro da saudosa juventude dourada da Vila.  A finalíssima do campeonato de dama, em que um UNES enfrentou um AntUNES, foi relatada por mim a boquiabertas plateias locais e no exterior. Para completar - as façanhas de meu imenso amigo Barão, filho do primeiro José, eu as releio com os olhos úmidos, me perguntando por quê nos deixou tão cedo...

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

 

PEDRO I COMPOSITOR

João Amílcar Salgado

Em “O RISO DOURADO DA VILA” (2020), digo que a elite europeia do século 19 ficou tuberculosa e, não havendo ainda medicamento eficaz, simplesmente glamurizou a doença - no teatro, na ópera e em livro:  A DAMA DAS CAMÉLIAS (Dumas, 1848), LA TRAVIATA (Verdi, 1853), O DILEMA DO MÉDICO (Shaw, 1906) A MONTANHA MÁGICA (Mann, 1924) e O MOLEQUE RICARDO (Rego, 1935). Estudei então o efeito erótico da infecção. O caso mais impressionante é o de Pedro 1º. Fui presenteado em Portugal com o livro que transcreve sua necrópsia. O homem foi devastado pela tuberculose e ainda assim foi insaciável mulherengo. Agora a cravista brasileira Rosana Lanzelotte lança um livro muito importante, que documenta ter sido ele multi-instrumentista (clarim, flauta, violino, fagote, trombone e cravo) e compositor de hinos profanos e religiosos e até de modinhas. As que dedicou à Marquesa de Santos foram destruídas ou ocultadas. O religioso irlandês Robert Walsh, em 1829, disse dele: “A atividade a que ele mais se devota é a música, pela qual ele desenvolveu, em uma idade precoce, uma forte predileção, e mostrou um decidido talento. Ele não apenas aprendeu a tocar uma variedade de instrumentos, mas compôs, eu fui informado, muitas das músicas para a capela de seu pai; e a peça mais popular agora no Brasil, tanto as palavras quanto a música são de sua composição, atestando seu talento”. Era também dançarino do fado luso-cigano, da modinha brasileiro-lusa e do lundu angolano.  Paulo Rezzutti no livro “DOM PEDRO – A HISTÓRIA NÃO CONTADA” (2015) documenta tudo isso, mas seu livro não teve a repercussão que tem agora a pesquisa da Rosana.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

 


COMETI GRAVE ENGANO SOBRE OS PAIS DE ANA PROFETISA

João Amílcar Salgado

Em Nepomuceno tivemos dois irmãos casados com duas irmãs. Meu bisavô José Augusto Ribeiro se casou com minha bisavó Mariana Regina Correa Lima, enquanto seu irmão Joaquim Ribeiro se casou com Ana Profetisa Correa Lima, irmã de Mariana. Ambas são netas do Casaquinha (meu tetravô), pai da Maria Regina Souza Correa Lima (minha trisavó), mãe das duas. Em comentário a postagens da querida Verinha (Vilela Gonçalves de Oliveira) e de seus amigos, me confundi com os frequentes casamentos entre primos de nossa família. Pedindo mil perdões, aproveito para mostrar a foto afinal fornecida por esta brilhante prima e escritora. Continuo procurando os retratos de meu bisavõ e de minha bisavó. Tenho duas pistas: o retrato dele saiu em O PROGRESSISTA, quando faleceu vítima da pandemia gripal de 1918; e o dela pode existir em Três Pontas, onde estudou.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

 

SÃO TIAGO E A LOBA


JOÃO AMÍLCAR SALGADO

O habitante da Vila deve estar consciente de que nossa cidade nasceu sob forte influência galega. Hoje muita gente vai passear em Portugal, mas deve programar também visitar a Galiza, bem perto dali, e ali visitar Santiago de Compostela. Aqui perto temos a cidade de SãoTiago o que confirma tal influência. Outra confirmação está no célebre poema BARBARA BELA do poeta inconfidente ALVARENGA PEIXOTO. Nele ele diz que sua amada é “DO NORTE ESTRELA, QUE O MEU DESTINO SABES GUIAR” (ele e ela parentes de nepomucenenses). Compostela significa “campo da estrela polar” referência astrológica para o caminho de São Tiago, que liga o mundo a Compostela. Essa estrela-guia, que guiou os Reis Magos no Natal, é a mesma estrela-guia dos primeiros e principais navegadores da história.

Um dos estudos que faço é sobre o sincretismo religioso druída-apóstolo.  A família Correa da Vila parece ter forte genética celta e a Salgado sueva, ambas de origem galega. As crenças céltico-druidas impregnaram o cristianismo inicial, inclusive no respeito à natureza (estrela polar), à flora (fitoterapia) e à fauna (animais domésticos e selvagens, como o lobo). Uma das passagens legendárias ligadas a Tiago diz que os discípulos dele, Atanásio e Teodoro, foram até à Rainha Loba pedir que ela indicasse um lugar para sepultar o apóstolo. Ela, depois de se esquivar, acabou indicando um desvão de seu próprio palácio, que acabou transformado na Catedral de Compostela.

***

À DONA BÁRBARA HELIODORA

 Bárbara bela, do Norte estrela, / Que o meu destino sabes guiar, / De ti ausente triste a suspirar. / Por entre as penhas de incultas brenhas / Cansa-me a vista de te buscar; / Porém não vejo mais que o desejo, /  Sem esperança de te encontrar. / Eu bem queria a noite e o dia / Sempre contigo poder passar; / Mas orgulhosa sorte invejosa, / Desta fortuna me quer privar. / Tu, entre os braços, ternos abraços / Da filha amada podes gozar; / Priva-me a estrela de ti e dela, / Busca dous modos de me matar!

(Poema dedicado por Alvarenga Peixoto à sua esposa, remetido do cárcere da Ilha das Cobras)

 

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

 


A FAZENDA DA LAGOA

E SUA VERDADEIRA HISTÓRIA

João Amílcar Salgado

O casarão da Fazenda da Lagoa deve ter sido construído entre o final do século 18 e o início do 19, pelo capitão Manoel Joaquim da Costa Vale, meu tetravô. O casarão era chamado de Sobradinho e a fazenda era enorme, maior ainda se somada às suas fazendas do Sapé Grande, do Ribeirão São João e às vastas propriedades do genro Antônio José de Lima, o Casaquinha. O capitão possuía diversas outras fazendas, não só em cidades vizinhas, mas no Triangulo Mineiro e no noroeste paulista, além de outras barganhadas ou transferidas a diversos parentes. Parece também que ocultava arrobas de ouro sob o morro situado na margem oposta da lagoa, de modo a ser vigiado das janelas. A demolição do casarão e da sede da fazenda da Santa Cruz, erguida em 1823 pelo Casaquinha, é lamentada por todos os estudiosos da história da Vila. Na ilustração vê-se a majestosa casa retratada pela talentosa artista nepomucenense Alicemara Silva, em 1989, com o acréscimo imaginário da lagoa.

O casarão foi vendido a vários donos e foi até escola (nela foi alfabetizado o Didi do Restaurante). Os sucessivos proprietários, por desconhecerem sua verdadeira história, geralmente consideram o casarão como tendo pertencido, desde o início, a seu respectivo ramo familiar.  A Fazenda da Lagoa consta de meus livros NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA (2013), O RISO DOURADO DA VILA (2020), do livro do Lomez sobre a ferrovia de Três Pontas, do livro do Arthur Campos sobre a família Ribeiro de Oliveira Costa, da publicação de Firmino Costa sobre a família Costa Vale e das publicações do Projeto Compartilhar na internete. Breve será publicado o livro das irmãs Evangelina e Licínia Alves Vilela sobre sua família, que inclui os trisavós Manoel Joaquim e Casaquinha. Uma lista de descendentes e admiradores de Manoel Joaquim Costa está sendo elaborada, com o objetivo de conseguir a restauração integral do casarão, inclusive da própria lagoa. Muitas adesões são esperadas.

 

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

 


A LUTA CONTRA O AGROVENENO

João Amílcar Salgado

Como professor titular de Clínica Médica da UFMG e principalmente, por longos anos, professor de semiologia médica, fui talvez o primeiro a denunciar a indústria e o abuso do agroveneno no Brasil. Um de meus brinquedos de infância era rodar a turbina da máquina de tirar formiga que inoculava arsênico em nossos formigueiros. Tratei inúmeros casos de intoxicação em todas as suas variantes. Verifiquei que os médicos eram propositalmente desinformados sobre o assunto. Contabilizei intoxicados tratados como neuróticos.  Fui coorientador de meu primo Ronan Vieira, intensivista  da Unicamp, que fez a primeira tese sobre cuidado intensivo de intoxicados. Ele e eu éramos do agronegócio e, portanto, com isenta autoridade técnica nesta área. Um de meus amigos de juventude formou-se na Ufla e, logo a trabalho, pegou o apelido de Blenco. Interpelei-o e ele respondeu: “é triste, mas sou bem pago para intoxicar o máximo de gente possível...” Nessa época houve a primeira denúncia nacional de intoxicação intencional de toda uma comunidade indígena com agroveneno. Nos últimos quatro anos 1629 agrovenenos foram liberados em 1158 dias no Brasil, ou seja, mais de um por dia. A intimidação que o agronegócio impõe aos políticos, inclusive ao atual governo, significa uma tragédia.

 

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

 


O FIO DE BARBA MAIS CÉLEBRE DA VILA

João Amílcar Salgado

“Dou por garantia o fio de minha barba” traduz a honradez antiga nos negócios. O homem honrado puxa um fio de barba e o entrega a outrem, significando, com o gesto, a garantia de qualquer penhor. Quinca Lima era um desses homens de bem. Sendo um dos antigos ricaços da Vila, se mostrou raro empreendedor e resolveu erguer um grande armazém para os produtos de suas terras e de seus parentes. Os que assim protegiam seus produtos recebiam apenas a anotação respectiva sem qualquer garantia expressa. Uma pessoa de outra família pediu para armazenar pequena porção, recebeu o recibo e perguntou a garantia. O dono do armazém arrancou um fio de barba e o entregou ao surpreso beneficiado. Este espertalhão então passou a arquitetar um golpe terrível. Começou a oferecer a terceiros o serviço, mas os produtos eram armazenados em seu nome. Quando foi alcançada a lotação máxima, tudo foi incendiado. O dono, em nome do fio de barba indenizou tudo com a quase totalidade de seus bens. Seus descendentes, meus primos queridos, nada herdaram e vivem com dificuldades até hoje. Pediram-me, entretanto, que escrevesse sobre o fato. É desnecessário dizer que não houve investigação e ninguém foi punido.

NOTA  O silo poderia ser uma versão mais rústica desse da ilustração

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

 


 JOSÉ AFRANIO VILELA – 1º DESCENDENTE DE NEPOMUCENENSE A SER MINISTRO DO PODER JUDICIÁRIO

João Amílcar Salgado

A cidade de Nepomuceno encontra-se festiva neste dia 22/11/23 pela posse de José Afrânio Vilela  como ministro do Superior Tribunal de Justiça. Trata-se do 1º descendente de nepomucenense a ser guindado a tão alto cargo da magistratura.  Meu primo Afrânio honra nossa gente Alves Vilela com sua brilhante e meteórica carreira e certamente será cada vez mais aplaudido, a partir de tão distinto posto. Minha mãe, Evangelina Alves Vilela Salgado, em particular, certamente o abençoa do alto da memória de nossa família, iniciada com o casal Antônio Vilela Frazão e Eufrásia Brant Ribeiro Vilela.  Nossos mais efusivos cumprimentos ao empossado e aos queridíssimos membros de sua família imediata.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

 

NAPOLEOA

João Amílcar Salgado

Na Inglaterra, me apresentaram um médico vestido de maneira estranha e com o cabelo em desalinho. Era legista e quis saber minha opinião sobre a ética de um seu procedimento médico-legal. Na conversa, ele se aproximou muito de mim e seu odor era muito ruim. O colega que o apresentou a nosso grupo percebeu a coisa e foi direto ao ponto: “doutor você não tomou banho hoje.” Ele não se perturbou e respondeu com leve sorriso: “hoje não, na verdade não tomo banho há vários meses”. Quando ele saiu, o colega disse que a esposa dele era linda, um mulherão. No dia seguinte, lá estava o legista e perguntamos se sua esposa não exigia dele o banho. E ele, com o mesmo sorriso, retrucou: “é o contrário, ela é que me proíbe o banho!...” Não me lembro do nome dele, mas o apelidei de marido da napoleoa.  Napoleão, dois meses antes de regressar das batalhas, exigia que a Josefina deixasse de tomar banho.

sábado, 11 de novembro de 2023

 


FRANCISCO PAULO BILICO É UM ESCRITOR DA MELHOR TRADIÇAO MINEIRA

João Amílcar Salgado

Seu livro CONHECIMENTOS PRÁTICOS DE TERCEIROS (2020) é um prolongamento de sua primeira obra A INFLUÊNCIA DA LUA E OS MACETES DO CAMPO, escrita, a partir de 1998, quando foi entrevistado pelo notável jornalista José Hamilton Ribeiro, para o Globo Rural. Esses conhecimentos se prolongam em dois volumes de causos e reflexões adicionais.

Acabam sendo uma homenagem do filho ao sábio pai, o famigerado Zé Bilico, cujo perfil consta de meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020). Quando encontrei  o Zé, o Paulo e o Hamilton, fiquei muito feliz de, por meio deles,  rastrear a RIBEIRADA mineira. Nessa ocasião eu escrevia sobre a biografia do descobridor Carlos Chagas, nascido próximo do Zé, cujo Ribeiro era dali.  Tanto quanto pelo sobrenome, me identifiquei com os Bilicos, quando falamos de galo capão, moinho dagua, laranja natal, doce-de-mamão-macho, mangarito, jacatupé, jacarandá-rosa e o universo do café. Acabei diplomado como lavourista (cafeicultor), depois de ser testado, com perguntas capciosas, em pleno cafezal. Ali, na serra, o Zé me disse: “o doutor é lavourista da beira do Rio Grande; aqui no alto a água escorrendo prá cá vai pro São Francisco e prá lá vai pro Grande, onde dá melhor café”. E derramou um copo cá e um copo lá - para a aula ser prática.

O Xico Paulo é diplomado em filosofia, mas, em vez de Sócrates ou Descartes, seu guru mesmo é o Zé. Um de seus textos filosóficos se intitula FILOSOFANDO NA MAIONESE. Exemplo de suas lembranças é o CASO DA GALINHA CHOCA. O Zé e o Onofre, marido da sobrinha Anita, foram a uma fazenda comprar gado. O dono ofereceu um café na sombra do alpendre. A dona vem com uma galinha. O Zé se apressa em dizer: ”ó minha senhora, num mata não, num mata não, porque não podemos esperar o almoço”. Ela retrucou: “não, sô Izé, essa aqui é galinha choca, que tô levano prá tirá o chôco, mas se o sinh|ô quisé isperá, pego outra e mato”. O Zé, sem graça, finalizou: “muito obrigado, já tamo indo embora”

Na belíssima festa do congado em Itapecerica estávamos numa pizzaria e o relógio marcava uma hora da madrugada. A Leila comentou: “a essa hora o sêo Zé Bilico deve estar roncando”. Do nada, ele passa na rua pitando seu cigarro. O Zé Hamilton perguntou: “ seo Zé  cê não acha que fumar prejudica?”. Ele concorda: “acho sim, olha só minha calça como está toda furadinha, isso é fagulha de pito”.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

 





PIONEIRISMO DE MINAS TAMBÉM EM MEDICINAS RADIOLÓGICA E NUCLEAR

Além dos pioneirismos na nanoscopia e na oftalmologia, Minas também se sobressai nas medicinas radiológica e nuclear. Na cidade de Formiga, onde ainda não havia luz elétrica, o incrível clínico José Carlos Ferreira Pires leu a notícia da descoberta do raio-x e escreveu para o descobridor, pedindo que lhe enviasse a invenção. Assim, meses depois da descoberta, em 1896, chega a ampola à cidade mineira. Foi uma das primeiras, no mundo, utilizadas em atendimento clínico, e a primeira em condições rurais. Em Itamarandiba, MG, menor que Formiga, o incrível francês Afonso Pavie recebeu também, em 1911, um dos primeiros aparelhos radiológicos usados em clínica no Brasil. Pavie foi também o primeiro a prescrever pomada de Radium no país. O polímata juizforano Antônio da Silva Melo foi o primeiro pesquisador mundial a demonstrar o efeito adverso da radiatividade, em 1914 - e absurdamente não recebeu o Nobel. O Instituto do Radium, em 1922, em Belo Horizonte, foi o primeiro das Américas, sendo Eduardo Borges da Costa seu fundador e Mário Goulart Pena, o primeiro curieterapeuta continental. A atual UFMG recebeu Marie Curie e Irene Curie em 1926 e recebeu também Robert Oppenheimer em 1948. A mesma universidade é a primeira no país a criar um laboratório de Medicina Nuclear, organizado por Oromar Moreira, que permitiu o primeiro tratamento de hipertireoidismo com iodo radiativo e o primeiro mapeamento radiativo da tiroide, no Brasil, efetivados por João Amílcar Salgado, Ibraim Heneine e Viriato Magalhães.

O notável professor Francisco de Assis Magalhães Gomes, depois de ter trazido Oppenheimer à atual UFMG, criou, em 1952, o Instituto de Pesquisas Radiativas, que foi expropriado pela ditadura em 1972. Minas tinha rica reserva de urânio e, a seu lado no Espirito Santo, havia areias de tório, as quais deveriam ser pesquisadas pelo Instituto. Paradoxalmente o urânio mineiro foi, a seguir, atribuído à USP e o tório capixaba à UFMG. Os cientistas de tais centros deveriam desenvolver duas bombas atômicas brasileiras, uma de urânio e outra de tório. Oppenheimer chegou aqui já como ativista antinuclear. Magalhães Gomes e Carlos Chagas Filho ajudaram João Paulo II a anistiar Galileu, em 1992.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

 


O PRIMEIRO NANOSCÓPIO MUNDIAL É MINEIRO

João Amílcar Salgado

O primeiro nanoscópio mundial, produzido pela UFMG, está sendo adquirido pela Alemanha, em 7/11/23, fruto de 18 anos de pesquisa, coroada com publicação na revista NATURE. Vencedor de uma corrida internacional, possibilita a visualização e manipulação de matéria molecular e atômica. Nesta data, também, foi anunciado em Petrolina, PE, o potencial revolucionário de nanobolhas de ozônio para sanear esgoto.

O primeiro oftalmologista do Ocidente foi o médico e papa português Pedro Rabelo, parente dos Rabelos de Minas, que em cerca de 1250 escreveu o texto SOBRE OS OLHOS. Este genial alquimista deve ter lido o árabe Alhazen, outro sábio genial, autor do livro TESOURO ÓPTICO de cerca de 1020. Os primeiros bandeirantes com perda da visão devem ter usado o quartzo e o berilo de Minas como pedra-de-ler, tradição de famílias judaicas - e assim puderam ainda faiscar. Minas Gerais é, pois, pioneira na óptica desde tais cristais, passando pela primazia nacional em oftalmologia, oftalmoscopia (inclusive oftalmoscopia veterinária), citoscopia, gastroscopia, estrasbismo, lentes de contato, cerâmicas perioculares, correções refrativas e diversas outras invenções cirúrgicas. Da endoscopia digestiva, participei como estagiário do inventor Rudolf Schindler e quando o Celso Afonso de Oliveira e eu criamos o estadiamento da úlcera péptica. Pela microscopia eletrônica, Washington Tafuri descobriu a neurossecreção autonômica. Nas ciências aplicadas da citologia, neuro-histologia e astronomia, Minas tem igual projeção internacional.

 A oftalmologia brasileira iniciou-se com os mineiros Anastácio Abreu (este pioneiro também em anestesia geral) e Hilário de Gouveia. Prosseguiu com outros mineiros: Penido Burnier, Hilton Rocha, Nassim Calixto, Donato Valle, Amélio Bonfiglioli, Hélio Faria, Raul Soares, Geraldo Queiroga, Eduardo Soares, Henderson Almeida, Emir Soares, Emílio Castelar, Lúcio Almeida, Caio Manso, Roberto Abdalla, Valênio Perez, Paulo Ferrara, Joel Bodeon, Marcelo Costa, Ricardo Guimarães e outros. O nanoscópio acaba sendo esplendorosa adição a tão persistente brilho.

 

 

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

 


Ênio Leão – marco internacional Do ensino pediátrico

João Amílcar Salgado

 

Em meu livro de memórias, O RISO DOURADO DA VILA, descrevo como conheci o então assistente da clínica pediátrica Ênio Leão: Da pediatria cada um de nós saiu pediatra acabado, pois, graças à clarividência do professor Berardo Nunan, fazíamos com autonomia um profuso atendimento em ambulatório (inspirador da expansão da pediatria e do ensino ambulatorial em geral em 1975), estimulados por cinco craques do treinamento em serviço: Ênio Leão (formador desde aí da brilhante escola pediátrica mineira e pediatra de meus filhos), Augusto Severo, Mário Moreira, Celso Lobo e Achiles Tenuta.

Já como colegas na docência, o Ênio e eu, seu vice, fomos designados para a comissão destinada a implantar a residência médica no Hospital das Clínicas. Isso significa que os primeiros passos da residência médica na Universidade Federal de Minas Gerais estiveram muito próximos dos ideais inaugurais desta modalidade de treinamento.  Essa concepção influiria a seguir no modelo de internato pré-formatura, inclusive rural, estabelecido em 1975.  Infelizmente a residência sofreu ingerências vindas de cima que a levaram para rumo oposto e em condições degradantes.

 Foram, inicialmente, impostos critérios para impedir a admissão de candidatos considerados subversivos pela ditadura vigente. Posteriormente veio uma espécie de administração própria desvinculada de qualquer diretriz da graduação, obedecendo aí ditames não só oriundos da burocracia ministerial, mas originários das corporações de especialistas.  Para tanto, foi criada uma absurda comissão nacional de residência médica, com dois absurdos adicionais: devia haver nela representantes militares e de hospitais lucrativos.  Assim, a residência, em vez de acrescentar treinamento em pesquisa-e-ensino de alto nível às graduações terminais, foi transformada no monstrengo atual, ou seja, servir de muleta pedagógica a precaríssimos cursos de graduação, com o fim escuso de usar os pobres mal-acabados profissionais como mão-de-obra barata. E as clínicas ou serviços que os recebem como treinandos, pagando-os tão mal, ainda adquirem o título de instituição de ensino pós-graduado!!!

Da discussão daquela residência ideal e decente, surgiu a necessidade de uma comissão de padronização hospitalar, outra novidade, composta de subcomissões para várias áreas, sendo a mais importante a subcomissão de padronização de medicamentos.  E lá fomos o Ênio Leão e eu, seu vice, para a padronização.  Antes tínhamos criado mais outra novidade, a farmácia hospitalar, entregue à competência da farmacêutica Zildete Pereira de Souza, que logo se tornou a maior autoridade nesta área no país. A seriedade decorrente fez surgir um primeiro drama.

Uma grande empresa multinacional estava lançando novo antibiótico. Com base no que antes acontecia, escolheu nosso hospital como trampolim de marketing. Mas nossa comissão deu parecer negativo, assinado pelo presidente Ênio Leão, segundo o qual o produto ainda não contava com estudos isentos sobre sua segurança. O gerente geral veio de São Paulo e ofereceu viagem ao Caribe para nós dois. Não aceitamos. O diretor da Faculdade nos chamou a uma reunião e só aceitamos comparecer sem a presença do gerente geral. O diretor acabou subscrevendo o parecer inicial.

Quase ao mesmo tempo, se esboçam os primeiros mestrados e doutorados. E nosso Ênio, com toda sua imensa cultura clínica e sua admirável sintonia com o progresso científico, se viu desestimulado a não prosseguir na elaboração de sua tese sobre escorbuto infantil. Correu a notícia de que ou a gente se matriculava num mestrado ou desistia da carreira universitária. Leão, não tendo condições para regredir às exigências colegialescas do mestrado, quis jogar ao lixo a tese de livre-docência que preparava. Nós, seus admiradores, discordamos totalmente de sua atitude e recolhemos com carinho o original da pesquisa, pois aquele estudo era único e destinado a grande repercussão.

Tanto fizemos que ele afinal defendeu a tese como doutorado, por crédito de notório saber. O aplauso unânime, inclusive de fora de Minas, o estimulou a ancorar com redobrado entusiasmo quer a referida expansão a seguir ocorrida no Departamento de Pediatria (antes uma pequena disciplina), quer a própria produção científica dos membros, veteranos e jovens, da crescente equipe docente.  Sim, o nosso hoje tão elogiado mestrado-doutorado pediátrico adveio dessas peripécias embrionárias, sendo fruto do esforço e da capacidade do professor Edward Tonelli, outro grande vitorioso sobre as dificuldades daquela época. Agora, ao contrário, a já madura pos-graduação pediátrica chega a influir em projetos congêneres de dentro e fora da saúde e de dentro e fora de Minas.

O crescimento de nossa pediatria foi relatado, com auxílio de pirâmides demográficas comparativas entre o 1º e o 3º mundos, a Vic Neufeld.  Ele é o líder da inovação educacional desenvolvida na universidade canadense de McMaster e passou alguns dias conosco.  Considerou irmãs nossas inovações, mas ressaltou sem precedentes algumas que só conheceu aqui, especialmente o internato rural, o ambulatório periférico e o ensino pediátrico em geral. No afã de explicar-lhe nossa estratégia, usei um neologismo criado para caracterizá-la: nosso esforço era para  pediatrizar o currículo médico E de brincadeira verti a expressão para o inglês, com o neoverbo to pediatrize ou to pediatricize.  Ele passou a usá-lo, preferindo o primeiro, sempre com um sorriso de cumplicidade. E prometeu difundi-lo em suas palestras pelo mundo.

Outra conquista garantida pela liderança de Leão foi a publicação de um manual de pediatria ambulatorial, que compôs o conjunto formado pelos manuais de ambulatório para adulto e de cirurgia ambulatorial.  Embora o projeto inicial, de 1976, pedisse nova concepção de texto, os livros afinal editados foram os possíveis nas circunstâncias de então e o referente à  pediatria foi o de maior impacto, em virtude do ineditismo da nova concepção de medicina geral de crianças..

Houve depois um seminário aqui organizado pelo inesquecível professor Antônio Cândido Melo Carvalho, com a presença de inovadores curriculares dos quatro continentes. Na exposição que fiz de nosso processo curricular, perguntei se algum dos participantes sabia de alguma outra experiência semelhante ou com igual ou maior carga horária em pediatria. Não tinham notícia de nada igual. O mesmo aconteceu em outros encontros no Brasil e no exterior.  

Diante disso, ficou demonstrado que Ênio Leão está na origem e na liderança de tal primazia, ou seja,  representa incontestável marco mundial do ensino pediátrico.

 

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

 


O PESSOAL DA PONTE (do TITO)

João Amílcar Salgado

            Estávamos na fazenda da Lavrinha de meu tio Luiz Lourençoni. Minhas tias Rute, Bebete e Iracema alfabetizavam a redondeza. Os jovens filhos do Tito Meneiz também tinham aula ali. A Mariquita era amiga inseparável de minha irmã Maria. Vão chegando o Doca e o Helvécio e apontam os olhos desta, dizendo “gente, essa menina é muito bonita, com esse olho de gato”. A Mariquita corrige: “olho de gato, não – olho de gata”. A tia Rute era a maior amiga da Luzia da Ponte, o Deoclécio namorava nossa prima Carlota e eu era vidrado nas tranças da Maria Ângela, futura colega de aula no ginásio. Mais tarde, eu lembrava esta cena para a dona Alda, procurando acalmá-la pois já estava sendo levada pela Aparecida até a sala de cirurgia. O dr. Arnaldo ia retirar-lhe a vesícula, auxiliado pelo dr Rubem, sendo anestesistas o dr Décio e eu.  A morte tão inesperada da Mariquita fez a cidade inteira chorar. Minha irmã inconsolável chegou com um ramo do jardim da amiga e disse: “não quero nem olhar para isso” e o jogou perto do muro. Dias depois o ramo surpreendentemente brotou e ficou sendo a flor eternizada da Mariquita (Maria Isabel Menezes). .