João Amílcar Salgado

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

 


BRILHO BRASILEIRO: NÃO SOMOS TÃO INFERIORES ASSIM

João Amílcar Salgado

A brasileira Lia Medeiros é notícia hoje, 13/4/23, porque participou da façanha de obter a foto mais nítida de um buraco negro.  Lia é paulista, mas morou quatro anos em BH e ninguém faz isso impunemente. Daí que é viciada em pão de queijo, sua delícia diária nos EUA. Diz ter orgulho de pesquisar no mesmo prédio onde Einstein pesquisou, na Universidade de Princeton, Nova Jersei. Coincide que a evidência do buraco negro deriva da matemática do alemão.

            Nos jardins de Princeton outro brasileiro esteve com Einstein.  O incrível médico mineiro Antônio da Silva Melo, diplomado em Berlim, participou da recepção ao alemão, quando este esteve no Brasil, em 1925. Espantosamente, o levou a ingerir uma feijoada (ver meu texto sobre isso). Mais tarde, Antônio visita Princeton, supondo que o Albert não o reconheceria. Ao chegar, o juizforano se alegra, pois está por ali o homem da relatividade. Este encara o visitante e abre os braços para um saudoso reencontro.

REPRODUZO ESTE TEXTO DE 2023, AGORA EM DEZ/25, PORQUE DOIS OUTROS BRASILEIROS ACABAM DE  RECEBER O RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

1)      O BRASILEIRO LUCIANO MOREIRA É APONTADO PELO PERIÓDICO CIENTÍFICO “NATURE”  ENTRE OS 10 CIENTISTAS MAIS IMPORTANTES DE 2025 E 2) O MINISTRO BRASILEIRO ALEXANDRE DE MORAIS É TAMBÉM APONTADO COMO UMA DAS 25 PESSOAS MAIS INFLUENTES DO MUNDO EM 2025, PELO JORNAL BRITANICO “FINANCIAL TIMES”.

ALÉM DISSO, TEMOS

3)      O PAGAMENTO INSTANTÂNEO (PIX), GRATUITO PARA PESSOAS FÍSICAS, É ELOGIADO INTERNACIONALMENTE COMO UMA CRIAÇÁO ORIGINAL BRASILEIRA.

4)      “O AGENTE SECRETO”, FILME ESTRELADO POR WAGNER MOURA E DIRIGIDO POR KLEBER MENDONÇA, É SUCESSO INTERNACIONAL EM 2025 - DE MODO SEMELHANTE AO FILME “AINDA ESTOU AQUI” PREMIADO PELO OSCAR EM 2024, ESTRELADO PELO NEPOMUCENSE ADOTIVO SELTON MELO.

5)      O BRASIL CONTINUA SENDO O MAIOR EXPORTADOR MUNDIAL DE PROTEÍNA ANIMAL E TAMBÉM DE SOJA, CAFÉ, AÇÚCAR, SUCO DE LARANJA, ALGODÃO, CELULOSE E NIÓBIO, SENDO O 2º MAIOR EXPORTADOR DE FERRO, A 2ª MAIOR RESERVA DE TERRAS RARAS E O 3º MAIOR PRODUTOR DE FRUTAS.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

 


LEÃO 14 EM NICEIA

João Amílcar Salgado

Leão 14 acaba de visitar Niceia (28/11/25) e isso me remete a meus estudos de filosofia, pedagogia e história da medicina. O concílio de Niceia, em 325, sob Constantino, estatuiu o credo católico, dogmatizando a divindade do filho de Deus. Décadas depois, em 510, Boécio especificou a santíssima Trindade em “De Trinitate”. Muito me emocionou a descoberta, em 2013, da ruína submersa da basílica conciliar de Niceia, que também emocionou o papa.  Estudei o início da medicina ocidental, quando, na época desse concilio, ela se distanciou do dogmatismo religioso. Isso ocorreu em Nisibe, localidade próxima, onde religiosos acusados de hereges e jurados de morte, usaram de incrível habilidade para contornar ameaças e conflitos: criaram  instituições leigas adogmáticas, dedicadas ao cuidado de enfermos. Os médicos aí formados ficaram tão famosos que foram chamados, em 762, a Bagdá pelo califa Al Mansur, donde a medicina abássida se transformou na medicina do ocidente. A competência médica ali concentrada adveio de seletas práticas hipocráticas, de riquíssimas bibliotecas e da tradução de textos medicinais de todas as línguas. Além de Nisibe, institutos similares, protegidos por dirigentes esclarecidos ou liderados por homens geniais, como Santo Efraim, devem ser lembrados. Cito especialmente dois: a proto-universidade persa de Bendosabora, fundada pelo xá Sapor, em 271, e, na Europa, o Mosteiro de Vivarium, fundado, no século 6º, pelo genial romano Cassiodoro, na Calábria.

Já para minha proposta de equipe mínima de três médicos, destinada a pequenas cidades, cheguei a Boécio e à virtude do grupo de três. Em outro texto, exponho o resumo desta numerologia.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

 


A COP30 E A ANTI-CIÊNCIA

João Amílcar Salgado

A COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, de novembro de 2025), realizada em Belém do Pará, foi boicotada pelo governo dos EUA, mas este país foi muito bem representado por Gavin Newsom, governador da California – o Estado mais rico, mais democrático e onde há brilhante produção tecnológica. Outros representantes ianques do mesmo nível participaram. Eu, que faço parte da maioria dos cientistas de todas as nações, estudo os negacionistas dos pontos de vista histórico e filosófico. O negacionismo é velho na história, mas é novo no uso de redes de comunicação coletiva. Estou focado não em sua estupidez, mas na tremenda ameaça que representa à sobrevivência da humanidade.

 

FOTO DE NEWSOM

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

 


FORMOSA

João Amílcar Salgado

O MÉDICO ANTONIO MACIEL MONTEIRO, NOSSO PARENTE, ESCREVEU SEU CÉLEBRE SONETO SÉCULOS ATRÁS

SE TIVESSE A VENTURA DE CONHECER A BRENDA, CONCORDARIA EM EMPRESTAR-ME TÃO PERFEITOS VERSOS, PARA COMEMORAR O ANIVERSÁRIO DE MINHA MARAVILHOSA NETA, EM 2025.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

 


NEPOMUCENO E BALAZAR

João Amílcar Salgado

Em 2010 publiquei um resumo da história de Lavras e de Nepomuceno, no qual afirmo que o fundador de Lavras é Luiz Gomes Salgado e que o fundador de três de suas principais famílias é Manuel da Costa Vale, casado com Maria do Rosário Pedroso de Morais. Os descendentes nepomucenenses desse casal são Costa, Pedroso, Morais, Ferreira, Ribeiro, Sales, Lima, Lima Pádua, Lima Costa, Lima Rabelo, Ribeiro Lima, Corrêa Lima, Cambraia Lima, Oliveira Lima, Garcia Lima, Veiga Lima, Barbosa Lima, Vilela Lima, Lima Salgado, Cardoso Vilela, Vilela Teixeira, Vilela Salgado, Abreu Salgado, Teófilo Salgado, Salgado Lourençoni, Salgado Andrade, Augusto Lourenção, Flávio Pimenta e Veiga Sales.

Recebi de Portugal a seguinte mensagem: “Sou José Ferreira, do norte de Portugal e ando a estudar a freguesia de Balasar, onde nasceu Manuel da Costa, que aí no Brasil ficou conhecido como Manoel da Costa Vale. Os pais de Manoel da Costa Vale são ascendentes diretos da Beata Alexandrina Maria da Costa”. José Ferreira publicou, em 2015, o livro BALASAR, NO SÉCULO DE D. BENTA, onde encontramos a genealogia pregressa dos Costa Vale. Preciosíssima cópia foi-me gentilmente presenteada por nosso ilustre primo Paulo Sales Silva. A citada gente da Vila sabe então que tem uma santa em vias de canonização entre a parentela.

Alexandrina Maria da Costa é uma mística católica beatificada pelo papa João Paulo II em 2004, centenário de seu natalício. Nasceu no povoado luso de Balazar, na cidade de Póvoa de Varzim, da área metropolitana do Porto. Aos 14 anos, para fugir do estupro, se atirou do alto de 4 metros, sofrendo lesões que a levaram a progressiva paralisia dos membros, padecendo as dores da estigmatização. Ficou imobilizada por 26 anos, até a morte em 1955. Convenceu o papa Pio 12 a consagrar o mundo ao Imaculado Coração de Maria. Escreveu um diário intitulado MIGALHINHAS (2013, disponível na Amazon).

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

 


HOMENAGEM AOS CACIQUES PICHUVY, RAONI E TIBIRIÇÁ

João Amílcar Salgado

O médico e pescador  mineiro José Sílvio Resende foi pescar em Rondônia, onde uma antropóloga pediu que examinasse um cacique até então tratado de tuberculose, sem qualquer melhora. O doente chamava-se Pichuvy e¸ dias depois, declarou que a divindade de seu povo Cinta-Larga trouxe o doutor branco para salvá-lo da morte certa. De fato, José Sílvio era o maior cirurgião torácico do país e de pronto diagnosticou bronquiectasia. Trouxe Pichuby a Belo Horizonte, operou-o, com cura total, e recebeu o título de compadre dele e benfeitor do povo Cinta-Larga, com troca anual de presentes. O nativo acabou autor de um livro em seu idioma intitulado HISTÓRIAS DE MALOCA ANTIGAMENTE (1988), por Pichuvy Cinta-Larga. O povo Cinta-Larga teve a ventura ou desventura de viver sobre gigantesca jazida de diamante. Sob a impiedosa ganância do garimpo ilegal, sofreu várias incursões genocidas, a maior das quais em 1973. Relembro tudo isso hoje, 12/11/25, quando ocorre em Belém do Pará a CÚPULA DOS POVOS (povos indígenas de todo o planeta). Faço esta homenagem a Pichuvy e também ao cacíque Raoni Metuktire, que comparece ali aos 96 anos. Este é do povo caiapó, que habitou originalmente a área de Nepomuceno e foi expulsa daqui, após macrogenocídio ocorrido no sul de Minas, no Triângulo, no noroeste paulista e em Goiás. Faço-o também em nome do cacique Tibiriçá, de quem sou descendente direto, há mais de 20 gerações, e de quem conservo, com muita honra, o gene dominante dos olhos apertados, razão de seu nome.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

 


DRUMMOND, ROSA E BANDEIRA,  DÉCADA DE 60

 

João Amílcar Salgado

 

DOIS MINEIROS E UM PERNAMBUCANO FÃ CONFESSO DE MINAS.

 

MANUEL BANDEIRA ERA AMICÍSSIMO DE AFONSO PENA JÚNIOR.

 

PENA JÚNIOR PREZAVA MUITO SEUS PRIMOS RIBEIRO LIMA DE NEPOMUCENO. NO GRUPO ESCOLAR “CORONEL” HAVIA ESTE RETRATO DELE

 

CARLOS DRUMMOND FOI CONTEMPORÂNEO DE JOÃO SALGADO Fo NO CURSO DE FARMÁCIA DA ATUAL UFMG.

 

JOÃO GUIMARÃES ROSA FOI COLEGA DE TURMA DE RUBEM RIBEIRO NA ATUAL UFMG

 

domingo, 2 de novembro de 2025

 


CARLOS E JOÃO AMÍLCAR SALGADO NA CÂMARA MUNICIPAL DE NEPOMUCENO

João Amílcar Salgado

Em 17/10/25, a Câmara Municipal de Nepomuceno recebeu os médicos Carlos Amílcar Salgado e João Amílcar Salgado, em memorável sessão sobre o aperfeiçoamento da atenção à saúde local. Foi uma deferência atenciosa a ambos, reconhecidos por muitas famílias da Vila pelo socorro médico, tanto no atendimento de casos individuais quanto em providências institucionais. Foram efusivamente aplaudidos em seus pronunciamentos. Esta data será sem dúvida um marco, mercê de tudo de bom que nossa gente ansiosamente aguarda. Em nome do presidente Túlio Marangoni Morais , do Ostinho e das gentis Liliane Baldoni e Alexsânia Alves, Carlos e João cumprimentam e agradecem a todos os vereadores e funcionários desta ilustre casa legislativa.

João Amílcar, na qualidade de historiador da cidade, autor do livro NEPOMUCENO - SÍNTESE HISTÓRICA (2017), diante do elogio a seu filho, por seu desempenho técnico no alto escalão do Ministério da Saúde, lembrou os méritos dos Vilelas da Vila. De fato, é digna de comemoração a presença recente de membros desta família em altos cometimentos nacionais. Observou que Carlos  Amílcar (Vilela) Salgado tem a honrosa companhia do ministro Afrânio Vilela, guindado ao Superior Tribunal de Justiça, do cientista e ex-reitor de Viçosa Evaldo Vilela na presidência do Conselho Nacional de Pesquisa, do presidente do CTNbio Edilson (Vilela) Paiva, do brilhante cirurgião da UFMG Manuel Jacy Vilela, co-autor do vitorioso planejamento brasileiro  de transplante de órgãos, e do cientista Eduardo Garcia Vilela, estrela maior da gastroenterologia mineira e nacional. Acrescente-se o ator, escritor e cineasta Selton (Vilela) Melo, astro principal de AINDA ESTOU AQUI, premiado com o Oscar de melhor filme internacional de 2025.

Se tudo for confirmado, não haverá mais limitação financeira para a saúde do município, inclusive será honrado o visionário pioneirismo de nosso queridíssimo Dr. Juca (José Augusto de Oliveira Lima), no início do século 20, por ocasião do nascedouro de nossa Santa Casa. No meio daquele século, seu consanguíneo João Amílcar, um dos formuladores do Sus,  militou ali muito jovem, na premonição  da façanha do filho Carlos, ora celebrada.

Na 2ª  foto: Brenda, João, Jorcelina, Ana Luiza e Carlos

 

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

 



 

SÔNIA – COMO ESQUECÊ-LA?

João Amílcar Salgado

Quando o célebre Bar do Michel foi fechado, a Vila foi brindada com o Bar do Sôvinico (Alvim Reis), com duas ótimas notícias: as filhas do dono eram lindas (três delas casadas com parentes meus: Milton/Ivone, Odair/Helena e José/Lalá) e suas mesas-de-sinuca eram de nível profissional. Para meu pai, a ausência do amigo Michel foi compensada por mais um udenista na roda da farmácia. Bem mais tarde, a Vila foi felicitada pelos bisnetos do dono: os talentosíssimos Danton e Selton Melo, consanguíneos de meus filhos, dos quais e dos irmãos a amorosa Sônia ajudou a mana Selva a cuidar.

Mais uma dádiva à cidade: o filho Paulo Reis, o Marolo, além de braço direito do Sôvinico, se transformou, graças ao usufruto da sinuca, no maior astro deste esporte no Sul de Minas. Por minha vez, fui colega de ginásio e amicíssimo do irmão mais jovem Haroldo. Mais que isso, fui namorado adolescente da neta Sônia, inseparável de minha irmã Neusa e de magnético encanto. Incrível caber nas duas meninotas tanta meiguice e tanto romantismo!...

Não faz muito tempo, minha querida prima Helenice me recebeu, junto a amigas, para um café-da-tarde. Fiquei feliz de reencontrar ali a Sônia, a quem manifestei meu pesar pelo falecimento do meu amigo Luiz. Ela revelou que proporcionei a ele as últimas boas risadas de sua vida. Pedia a ela que lesse a lista de apelidos de meu livro O RISO DOURADO DA VILA. E fez isso por repetidas vezes. Emocionado, lembrei-lhes quão querida era a família dele, pois fui colega de turma ginasial do Tião, do Hair e da futura esposa deste, a encantadora Julita. E a bela irmã deles, Maria Helena, se casou com meu primo Dane.

Eu tinha 13 anos, quando a Neusa e a Sônia aguardaram nossa farmácia fechar e foram inspecionar um tesouro para elas: a vitrine de perfumes, esmaltes e batons. De lá vieram com um batom vermelho rutilante. Logo estavam com os lábios de vampe, me chamando pela casa. Eu estava lendo “A Guerra dos Mundos” (de H. G. Wells) e as duas me disseram que eu era a cobaia do batom. Cada uma me beijou num dos lados da face. Fomos para o espelho e achamos lindo! Exigi que limpassem aquilo e fui para o footing na Rua Direita. Na porta do Sôvinico, quem aparece? A filha Lalá que me vem cumprimentar e diz: Oh quem te beijou? Quem beijou limpou, mas a marca ficou! Quem foi? Sendo ela tia da Sônia, fiquei mudo e saí de fininho. No dia seguinte as duas queriam repetir a coisa com outros batons. Eu disse que só aceitaria se a Sônia me deixasse beijá-la na boca. Ela deixou e exclamou: “ delícia!” e eu respondi: “sua boca tem perfume de gardênia...” Desde então as músicas A LENDA DO BEIJO e PERFUME DE GARDENIA, passaram a ser nossas, de nós três - e minhas até hoje. Cliquem nos youtubes abaixo.

Em visita a Nova Friburgo, fui presenteado com três mudas de gardênia e uma delas perfumou nosso jardim por largo tempo. A Sônia passou em frente e pedi que viesse sentir aquele perfume. Ela veio e se lembrou de tudo. Sendo ela viúva e eu desimpedido, beijei-a mais uma vez. E o amor ficou “eterno novamente”.

 

https://youtu.be/pqowd8ZIFjY?list=RDpqowd8ZIFjY

https://youtu.be/1QTgqPBXil8?list=RD1QTgqPBXil8

https://youtu.be/q8cfnPc7Cx4?list=RDq8cfnPc7Cx4

 

VOLIBOLISTAS: Renilze, Telma, Maria, Ivone, Marlene, Hulda, Glória e Sõnia. A Simone, replica da beleza da mãe, me prometeu fotos adicionais.

 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

 



NEPOMUCENO E O METANOL

João Amílcar Salgado

A primeira anotação do metanol na história de Nepomuceno parece datar da criação da cachaça MILONGUITA na década de 40 do século 20, pelos amigos João Salgado Filho e José Antunes Jr (Zequinha).  O farmacêutico Sargado, diante de seu círculo de admiradores, explicou como seria uma cachaça de altíssima qualidade e que um cuidado especial seria evitar que contivesse metanol, o álcool indesejado.  Pouco tempo depois, nos degraus dali, morreria o popular ébrio Cai-Nágua e o dono diagnosticou óbito certamente por metanol. Enquanto o padeiro Eurico César de Almeida Antunes, irmão do Zequinha, insistia no nome Milonguita para a nova aguardente, a turma relembrou as pingas famosas da Vila e a campeã entre elas era a ZUEIRA. Mas o Sargado alertou sobre o nome Zueira, talvez popularizado por alusão a lotes contaminados por metanol. Para atender a alta demanda, o fabricante poderia ter descuidado do controle de qualidade e o nome adotado apontava consequente afecção neurológica.  Outro ébrio era o Govêia, de forte pendor para sambista, que faleceu em coma, pouco tempo após passar a ingerir álcool puro.

            Como pesquisador, logo me interessei pelo espectro sindrômico do alcoolismo, principalmente as causas das variantes clínicas. Isso trouxe duas consequências principais: o movimento antimanicomial, iniciado por minha cooperação com o inesquecível amigo Luiz Cisalpino Carneiro, e minha investigação sobre a relação entre doença de Chagas e o beribéri. Anos depois, verifiquei que muitos pacientes de úlcera péptica burlavam a dieta proibitiva de bebida alcoólica, sem prejuízo à cicatrização da lesão. Para comprová-lo, o mesmo Luiz montou talvez a primeira mensuração da alcoolemia no país, mas os tubos de sangue cuidadosamente coletados, sofreram pane no congelamento. Bem mais recente foi a criação do bafômetro.

Em 1974 iniciamos o ensino contraconsumista na Ufmg. Em 1976 foi instituído o primeiro Procon em São Paulo (de inocuidade extrema). Em 1987, foi criado o Idec (Instituto de Devesa do Consumidor, idem). Em 1988 foi estabelecido o Sus (Sistema Único de Saúde - deveria ser único, mas não é) e em 1990 o Código de Defesa do Consumidor (defesa sem defensor). Em 1991, iniciamos na Revista da Ammg a tradução da Medical Letter (desde 1958) e do Drug & Therapeutic Bulletin (desde 1962), que levou ao Boletim de Terapêutica e Medicamentos do Inamps, graças a Adelmar Cadar. Foi criminosamente interrompido no governo Newton Cardoso.  Em 1999, por proposta nossa para ser nossa Fda, foi criada a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária – que, enfim, não vigia nem a publicidade, nem a falsificação, nem a adulteração, nem o contrabando e nem o narcotráfico). Tais aparentes boas iniciativas atraíram respostas contrárias, a começar pela do pelego Magri que, como ministro do trabalho de Collor, em 1990, anunciou que ia desregulamentar tudo.

Desde então, pouca coisa funcionou desejavelmente. Entre inúmeros escândalos, as mortes por metanol são mera ponta do aicebergue consumista generalizado. Participei no Senado, representando a convite o Cfm, de um debate em que o então ministro Magri, olhando para mim, garantiu que qualquer cidadão, mesmo analfabeto, seria autorizado por ele a exercer a profissão de médico.

domingo, 21 de setembro de 2025

 



ROBERT REDFORD, SÔNIA BRAGA E WALTER SALLES JR

João Amílcar Salgado

Em 1986, nos EUA, eu havia aparteado um conferencista sobre o significado do termo “latino-americano”. Pediram-me para fazer uma exposição que pormenorizasse meu aparte. Comecei pela geografia, mostrando que, além do México,  grande parte da América do Norte é de origem latina, ou seja, a porção francesa do Canadá e as porções francesa e espanhola dos EUA. Já a soma das Américas Central e do Sul é quase toda ibero-americana. Mesmo a origem bretã-germânica da América do Norte inclui o componente celta, que também é componente ibérico. No Brasil, a população branca do nordeste e do sudeste é fortemente galega, isto é, celta. Observei a grande afinidade entre os brasileiros e os norte-americanos de origem irlandesa, escocesa e galesa. Por outro lado, as três Américas foram colonizadas sob forte contingente judaico, indígena e negro. Há ampla similaridade indígena, paralela às formidáveis civilizações andina e maia. Comparei sudaneses do norte e bantos do sul, na África e nas Américas.  Citei a obra “O PRESIDENTE NEGRO” de Lobato (antecipador de Obama).

Sugeri que a maior aproximação entre os EUA e o Brasil aproveitasse tais fatos. Pediram-me nomes que eu incluiria em tal intercâmbio. Respondi que citaria dois lamentavelmente mortos e dois vivos: o cineasta John Ford, o escritor Ernest Hemingway, o polímata Alex Haley e o cientista Carl Sagan. Daí que participei de providências para a frustrada vinda de Sagan à UFMG.

Outro estadunidense que na época não era bem conhecido é Robert Redford, um galã com criativa inquietação social. Incluo-o na citada lista, por duas ligações com o Brasil: seu romance com a fascinante atriz Sonia Braga e seus projetos junto ao genial cineasta sulmineiro Walter Salles Jr.

 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

 


QUANDO MENINO INVENTEI O PATIM MOTORIZADO

João Amílcar Salgado

Quando menino, fui cortar cabelo no Clide Padilha. Enquanto esperava, 2 ou 3 amigos vieram conversar comigo.  O Baiano Oscar também esperava e acompanhava nossa conversa. Comentávamos o rinque de patinação que o Socônego inaugurou em frente â matriz. Falei então que no futuro aqueles patins teriam motor. O Vando Tambini perguntou se aquilo seria possível. Respondi: não tinha o relógio da igreja e depois inventaram o relógio de pulso?, não tinha o trem-de-ferro e depois inventaram o automóvel e a motocicleta?, então tem o patim e estou inventando o patim com motor. O Baiano falou pro Clide: esse menino acaba de falar a maior bobagem que eu já ouvi na minha vida... Diante daquele homem, que me pareceu um grandalhão, fiquei vermelhinho e não falei mais nada. Tempos depois, quem se tornou um grande amigo meu? O Baiano.

Havia a pesada filmadora do Bembém e depois inventaram a leve filmadora portátil – e desta talvez a primeira da Vila foi a minha. Ironicamente, no carnaval filmei o passista Baiano, que chorou de alegria quando lhe mostrei a cena. Passei a ser o seu médico ocasional e seu interlocutor por horas. Pouco antes de falecer me disse: tenho o maior luxo com meu sítio e você é o único que vai cuidar dele como eu cuido, te vendo. Cometi o grande erro de não o ter adquirido.  Relembro tudo isso agora, quando o assunto do momento é a polêmica dos patinetes, não apenas motorizados mas silenciosamente elétricos. 

 

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

 


DOUTOR HONORIS CAUSA EM PEDIATRIA

João Amílcar Salgado

Recebi, no meio deste ano de 2025, duas homenagens que muito me emocionaram: 1) como professor universitário, no jubileu de ouro da turma de 1975 da Faculdade de Medicina da UFMG e 2) como historiador municipal, a medalha Mateus Luiz Garcia, no aniversário de minha cidade Nepomuceno. No preparo de meus agradecimentos, revisitei a também comovida homenagem que recebi do Departamento de Pediatria da UFMG, no 7º  Encontro, no Hotel Taquaril, em 1997. Dai, deparei com uma lista relacionável ao ensino da pediatiria, que elaborei a pedido de meu inigualável mestre Enio Leão, segundo ele, para nomear-me doutor honoris causa em pediatria. Este apanhado ficou inacabado e extraviado. Em virtude da importância histórica que pode ter, transcrevo-o aqui, completado.

1.   Aos 12 anos eu era o braço direito de meu pai e aprendi tudo de farmácia galênica, inclusive o critério rigoroso para a dosagem das poções infantis

2.    Desde então fui pediatra informal para familiares e filhos de auxiliares, em nossa casa e na roça

3.   No 1º ano de medicina, perguntei ao professor Liberato DiDio por que não dissecaríamos cadáveres de crianças. Ele ficou tão desconcertado que disse ser a minha dúvida assunto da próxima aula, a qual não aconteceu até hoje.

4.   No 3º ano, tivemos o privilégio de iniciar, na então cátedra de microbiologia, o “convênio da gastrenterite”, pelo qual as crianças, após o exame clínico, tinham suas fezes sob escrutínio bacteriológico. Dai surgiu o centro de hidratação infantil, hoje João Paulo II, e a  projeção nacional de meu colega de turma Josè Aloysio da Costa Val e do excelente Luciano Peret

5.   No quarto ano, o primeiro leito de que cuidei foi no pavilhão de isolamento. Era uma adolescente com suspeita de hepatite, mas logo diagnostiquei drepanocitose. Na apresentação deste caso, em reunião conjunta da clínica médica, citei o efeito da doença sobre a malária, fato que todo o corpo docente ignorava e ainda suspeitaram de que eu estava inventando.

6.   A partir daí, o Geraldo Canabrava, querido colega de turma e colega-estagiário desse atendimento infectológico, me impressionou com seu modo de se relacionar com os bebês e com as mães, bem como sua capacidade excepcional de interpretar sinais e sintomas. Ao mesmo tempo excursionávamos a cidades sem médico, em mutirão de atendimento, antecipador do internato rural.

7.   O impacto das aulas de pediatria propriamente dita, lideradas pelo genial Ênio Leão, me entusiasmou. Em vez de aulas teóricas, cada aluno era escalado para um consultório e tive enorme prazer em acompanhar o sulmineiro Augusto Severo, exímio semiologista pediátrico e cultor da simplicidade terapêutica.

8.   No final do curso, residi no então excelente hospital do IPSEMG, onde a metade do atendimento era pediátrica, com hidratação venosa, inclusive por ambulância. Ali atendi ao lado de eminentes pediatras, os principais deles Clarindo Cerqueira, pioneiro em neonatalogia, Múcio de Paula, virtuose da habilidade clínica e Guy Jannotti, diligente instrutor. Conheci então a magnífica enfermeira pediátrica, a irmã Teca, da qual recebi elogio inesquecível: “pelo que vejo você vai ser pediatra, não?, mas, se for, será dos melhores”.

9.   Dedicado à semiologia médica e professor dela por vários anos, fiz o estudo comparativo entre adulto e criança, e concluí que qualquer curso médico deve colocar os alunos precocemente no atendimento 50%  de crianças, qualquer que seja a pirâmide populacional. Outro estudo comparativo foi entre o parto de cócoras defendido por Galba Araújo e a defecação de cócoras defendida por Silva Melo.

10.       Isso levou à proposta de dois segmentos de ensino ambulatorial: medicina geral de adultos e medicina geral de crianças, afinal adotado na UFMG em 1975 e depois pelo Brasil. O ambulatório periférico e o internato rural são obviamente também pediátricos. Isso significou a maior carga horária pediátrica do mundo. Proposta correlata fora anteriormente feita, em 1967, de uma equipe mínima de três médicos, sendo um deles pediatra dublê de anestesista. Outras iniciativas foram os apoios coerentes à oftalmologia pediátrica através do brilhante Henderson Celestino de Almeida, à cirurgia infantil através dos eminentes  Manoel Firmato, José Carlos Lana e Moacir Tibúrcio, bem como ao ensino simulado em adulto e criança, através do notável Antônio Cândido, junto a Cristine McGuire, mestra do tema.

11.       Sextanista, recebi no plantão uma criança com síndrome de Waterhouse-Friderichsen e os pediatras diagnosticaram meningite.  Discordei e pedi exame para febre maculosa. Foi o último exame feito por meu querido professor Otávio Magalhães, que me parabenizou pelo diagnóstico confirmado por ele

12.       Ainda sextanista, diagnostiquei mononucleose em outra criança. Na época o exame exigia sangue de carneiro. O laboratorista Sales Jesuino esbravejou comigo e falou aos pediatras: “este menino tem de ser proibido de inventar doença, estou bufando de correr atrás de carneiro!” Depois veio me pedir desculpas, porque o exame deu positivo.

13.       Recém-diplomado, reencontrei, com uma equipe, a paciente Berenice da Doença de Chagas, sendo que a descrição da criança inaugural por Carlos Chagas significa o primeiro ou o maior capítulo da infectologia pediátrica no Brasil. A Berenice de Chagas e a Berenice reencontrada estão no livro A PACIENTE BERENICE DA DOENÇA DE CHAGAS (2024).

14.       Encontrei em Nepomuceno uma criança que ingeriu soda cáustica. Trouxe-a ao pronto-socorro e o tratamento foi modelar, se prestando a muitas aulas. Tanto que a menina, apelidada de Sodinha, passou a residir no hospital, protegida por Elmo Perez, e a devolvi à mãe Aparecida da Maria Rosa plenamente recuperada.

15.       Outra criança estava em opstótono em Nepomuceno e eu tinha acabado de participar da montagem do primeiro CTI completo do país, na UFMG.  Trouxe-a e foi o primeiro tétano tratado em CTI no Brasil. A criança se tornou um homem normal que veio, nós dois emocionados, me agradecer recentemente.

16.       O Ênio Leão veio com sua magnífica tese sobre escorbuto, dizendo que me queria testemunha de sua decisão de jogá-la no lixo. O outro Enio (Cardilho) tinha dito que seria da banca e a reprovaria pela ausência de dosagem da vitamina. Arrebatei o texto, fiz a revisão metodológica e lhe dei dez com louvor.

17.       O Edward Tonelli veio com sua magnífica tese sobre salmonelose septicêmica, fiz a revisão metodológica e lhe dei dez com louvor.

18.       O José Silvério Diniz veio com sua magnífica tese sobre síndrome nefrótica, fiz a revisão metodológica e lhe dei dez com louvor.

19.       Indiquei o José Silvério para diretor do Hospital das Clinicas e o Enio para editor da revista médica que criamos. Indicamos Dario Tavares para a saúde estadual, com o fim de implantar o internato rural, e ele perguntou: com que recurso? Respondi: com os dólares que a Kellogg nos deu para a antinatalidade.

20.       Propus a edição de um livro didático sobre clínica ambulatorial de adultos e outro sobre pediatria ambulatorial, redigidos pelo método de resolução de problemas. Ambos foram editados, mas, por pressa, as equipes encarregadas deixaram de lado o método.

sábado, 6 de setembro de 2025

 MINHA LINDÍSSIMA NETA FERNANDA,

 NESTE SEU ANIVERSÁRIO, ME FEZ CANTAROLAR A CANÇÃO AMAPOLA



terça-feira, 26 de agosto de 2025

 


NEPOMUCENO E BARRETOS

João Amílcar Salgado

        A região de Barretos era território dos índios caiapós que sofreram genocídio cometido pelos primeiros bandeirantes. Os índios coroados ocuparam seu espaço e sofreram genocídio igual. Em Nepomuceno, meu tetravô Manuel Joaquim da Costa Valle sabendo de área ficada devoluta e sendo dono de uma fortuna incalculável, mandou gente de sua família para ocupar parte das glebas. Sua neta Mariana de Souza Monteiro (terceira desse nome) nasceu na Fazenda da Lagoa em Nepomuceno, em 1829, casou-se com Francisco Angelo Rodrigues Airão, nascido na cidade de Campanha, e o casal foi para o sertão do Rio Pardo entre São Paulo, Minas e Mato Grosso. A fazenda que fundaram ali deu origem â cidade de Barretos.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

 


OS CHINESES TROCAM O CHÁ PELO CAFÉ OU BEBERÃO AMBOS?

João Amílcar Salgado

Houve um encontro internacional de ensino da medicina no Othon Palace, coordenado pelo meu notável ex-aluno Antônio Cândido de Carvalho, o Cancando.   Este eminente sulmineiro fez questão de servir um café finíssimo. O líder do ensino médico de Xangai provou e quis saber que coisa deliciosa era aquela. O Cancando me chamou para explicar-lhe, ressaltando que eu era cafeicultor. Ele então profetizou que a bebida concorreria com o chá em seu país.  Tempo depois foi noticiado que o consumo de café na China e na Índia está em forte crescimento junto à juventude urbana. A melhora das condições de vida em ambos os países causou o maior consumo do próprio chá e também do café. Se isso continuar acontecendo, os cafeicultores brasileiros seremos agraciados com incalculáveis milhões de novos adeptos de nossa bebida.

            Nos EUA aconteceu conversa semelhante, quando me pediram para falar ali do café de minha região. Fui muito franco ao afirmar que o seu país paga um preço alto por um café fino que não sabe consumir. E garanti que, quando aprendessem a beber aquela maravilha, o consumo que já é alto será muitas vezes multiplicado.

            Bem antes desse evento internacional, esteve entre nós, o cientista prêmio Nobel Alfred Gilman, autor clássico de farmacologia, quando se mostrou fã da nossa cachaça e de nosso café. Perguntei se tinha provado o nosso guaraná. “Vou provar urgentemente”, respondeu. Resumo dessa prosa: ele me convidou para escrever um capítulo sobre café, guaraná e cachaça na próxima edição de seu livro. Perguntaram-me, depois, sobre o capítulo e respondi que o convite tinha sido uma brincadeira.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

 



AINDA OUTRA DO 4D ANTECIPADO DA VILA

João Amílcar Salgado

Os filmes do Roy Rogers faziam mais sucesso na Vila por duas razões: somos fãs de cavalos e o ator era idêntico ao Marcly Vilela.  Qualquer pronúncia em inglês era anepomucenada: ele era o “Rói Roja” e seu cavalo palomino Trigger era “ou Tigre ou Trigue”. Grande emoção de todos foi quando o Trigger desamarrou o herói sequestrado pelos bandidos. O Guda era filho do Massaud, muito feliz por saber que seu caçula era companheiro inseparável dos filhos do Sargado. Pois bem, saímos da fita, o Guda veio conosco e perguntou: “Amirca, cê tem uma corda aí na sua casa? Cê vai me amarrá nesse poste, quí o trigue vem me desamarrá”. Amarramos o Guda e ficamos esperando. Como o cavalo não veio, fomos desamarrar o amigo. Ele ficou uma fera: “Me deixa aqui!!!”. Entrei e deixei o Zeca e o Marracarça vigiando o Guda: “Ele vai acabá durmino e aí cês sorta ele”. Os dois acabaram deitando no degrau e dormiram. Passava da meia noite, quando o Joca, irmão do Guda, vem vindo e encontra os três meninos dormindo, sendo que seu irmão dormia dependurado.

domingo, 3 de agosto de 2025

 


MARCELO GUIMARÃES – PARA ELE O PRÓ-ÁLCOOL SERIA OUTRO

João Amílcar Salgado

Entre as dezenas de ilustres Marcelos Guimarães existentes pelo Brasil, há um cuja memória deve ser preservada por todos nós. Aposentou-se da Petrobrás e foi morar num sítio em Mateus Leme. Ali inventou um mini-alambique supersimples capaz de produzir álcool ou cachaça com a pior cana-de-açúcar disponível. Eu disse a ele que um funileiro de Barbacena tinha tido a mesma ideia e ele respondeu: “então isso prova que o funileiro e eu achamos o rumo certo”.  Os pais do nosso motor a álcool são Stumpt e Vidal. Marcelo, porém, queria o álcool produzido em chácaras e sítios, como o dele, não só para uso próprio, mas a ser vendido livremente na beira das estradas. Isso causaria uma reforma agrária automática. Marcamos uma audiência com o recém-eleito presidente Lula e este disse: “Marcelão, vamos fazer esta revolução mais adiante, se eu fizer isso logo agora, as petroleiras me botam pra correr”. Importante, o sindicalista metalúrgico e o sindicalista petroleiro, também genial inventor, foram amigos fraternais do nepomucenense Luiz Fernando Maia.

sábado, 2 de agosto de 2025

 

MAIS UMA DE CINE 4D

João Amílcar Salgado

Muitos programas radiofônicos ou de tevê usam gravações de gargalhadas para remendo de humorismo sem graça. No folclore da Vila aconteceu isso e seu contrário. O protagonista era o Zé das Gatas. Ele adorava filmes cômicos. Só que sua gargalhada inestancável era um espetáculo à parte. Eu e minha turma resolvemos fazer de seu riso uma estudantada. Pagávamos sua entrada não só para ouvi-lo, mas para espicaçarmos seu tique incontrolável. Quando o fazíamos nas comédias, tudo bem. Se o filme era um dramalhão a plateia protestava, pedindo silêncio, que era impossível. Até que nos proibiram entrar com o Zé, quando o filme não era humorístico.

As Gatas eram duas irmãs brancas que adotaram uma criança negra, o José Borba, e o criaram como filho mimado. Foram, portanto, pioneiras contra a discriminação racial. O mesmo fez meu tio Demétrio que adotou meu querido primo, o Jair do Papai. Isso explica por que o Zé das Gatas se sentia tão feliz, a ponto de não refrear as gargalhadas. Em nossa farmácia, os amigos discutiam a origem das Gatas. Meu pai explicou: são mulheres refinadas que fazem parte de hipotética descendência do bandeirante Borba Gato.  Se o  Umberto Eco tivesse notícia disso tudo, ele incluiria no enredo de O NOME DA ROSA (1980) a incontinência gargalhante do Zé das Gatas.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

 


LATANCHA, OUTRO DO CINE 4D DA VILA

João Amílcar Salgado

Além de meus três primos precursores do cine 4d, o Latancha, na década seguinte, surgiu como astro da arte esboçada.  No caso dele, era uma perfórmance exclusiva de alguém sendo alvejado.  Quando aparecia na tela o mocinho ou o bandido apontando a arma, ele já se erguia. Com o disparo, a vítima podia até estar na tela, mas o alvo concreto era ele ali na frente da plateia. Nem o melhor artista de Hollywood representava tão realisticamente a agonia e a morte do atingido. Impressionante era o som do baque de seu corpo no duro cimento de nosso cinema. A partir daí, o que era previsível aconteceu. Qualquer moleque, ao cruzar, em qualquer esquina, com o Latancha, fingia um tiro nele e ele, em resposta automática e instantânea, caia na sarjeta. E foi assim que ele morreu: o Zé Liminha tinha o único caminhão F8 dali, o qual ficava mais majestoso lotado de sacas de café. O alto da carga era o palco ideal para o Latancha e cenário perfeito para os tiros da molecada. Num destes, ele exagerou no realismo e veio do alto até o chão.

FOTO: F8 51

segunda-feira, 28 de julho de 2025

 


CINE 4D NÃO É NOVIDADE EM NEPOMUCENO

João Amílcar Salgado

O cine 4d consiste na experiência imersiva em salas de cinema, onde as cadeiras se movem e efeitos como vento, água e cheiro complementam o que é visto na tela. Por que isso não é novidade na Vila? Acontece que, nos anos 40 do século passado, o João Teófilo estava em nossa farmácia e uma algazarra de meninos era aprontada por nós. De repente a meninada saiu e meu pai explicou ao xará que era hora da fita-em-série do Tom Mix. O fazendeiro exclamou: “há... há... meus filhos estão ficando jeca demais, na semana que vem vou mandar eles pra ver o Tom Mix”.  Vieram três de seus filhos: o Zé Fubá, o João Cabrito e o Paulinho. Sentaram no meio da molecada, logo debaixo da tela. Apagam-se as luzes e a fita começa com uma porta de saloon, aquela de vai-e-vem, sendo invadida por bandidos de arma em punho e atirando prá todos os lados. Os 3 gritaram em coro, “tomos perdido!!!”, se levantaram e foram pisando em barrigas, pernas e genitais dos cine-espectadores de trás – e só pararam de correr quando, na escuridão da noite, conseguiram avistar sua roça.