João Amílcar Salgado

quarta-feira, 30 de abril de 2025

 


CATAÇÃO DE RISCO E VOLTA POR CIMA

João Amílcar Salgado

 

Em 2024 divulguei um fato sensacional de CATAÇÃO DE RISCO. Pois bem, agora, no ano seguinte, em 20/4/27, véspera da morte do Papa Francisco, o catador de risco Hugo Calderano dá a volta por cima e se torna campeão mundial de tênis de mesa.  Calderano mostrou que a síndrome nepomucenense não é nada grave e sua história deve servir de referência para que todos os cadadores de risco se recuperem.

Eis os textos comprobatórios

 

 9 de agosto de 2024

 

CATAÇÃO DE RISCO OLÍMPICA

    Em 2021, publiquei o seguinte texto: “SIMONE BILES CATOU RISCO”, comentando que o caso mais recente e mais estrondoso de catação-de-risco acaba de ser protagonizado (29/7/21) pela maravilhosa atleta olímpica Simone Biles. Ela alegou não estar ok.   Com isso, abandonou a prova final de ginástica por equipes, nas  Olimpíadas de Tóquio. A catação-de-risco foi caracterizada em Nepomuceno em 1946 pelo farmaceutico João Salgado Filho e pelo dentista Sílvio Veiga Lima, referendada pelos médicos Décio Lourenção, Alberto Sarquis e Rubem Ribeiro. Foi  publicada na  revista CASOS CLÍNICOS EM PSIQUIATRIA, em 2003, a convite do professor Maurício Viotti. Tal artigo foi transcrito  como um dos capítulos da edição do livro de João Salgado Filho OLHOS NEGROS (2016). A catação-de-risco alcançou o plano internacional, quando apareceu em tres filmes: MELHOR É IMPOSSÍVEL (1998), O AVIADOR (2004) E TOC TOC (2017), dirigidos respectivamente por James Brooks, Matin Scorcese e Vicente Villanueva. No primeiro, o ator é Jack Niclholson, no segundo é Leonardo diCaprio e no terceiro é um grupo de notáveis artistas. O termo TOC significa Transtorno Obsessivo-Compulsivo, que passou a uso comum, a partir da adoçao generalizada, neste século, da classificação psiquiátrica do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) dos EUA.  Leonardo confessou que decidiu encarnar o catador-de-risco Howard Hughes, que realmente existiu, porque ele próprio sempre catou risco. Outras personalidades como o cantor Roberto Carlos e o inventor Nicola Tesla aparecem na mídia como portadores desse transtorno. No esporte dois casos antes de Biles foram o do tenista Guga (2008) e a catação-de-risco coletiva da seleção brasileira na derrota para a Alemanha por 7 a 1, no Mineirão, em 2014. Ígualmente é atribuível à catação-de-risco o fracasso de outros favoritos nas competições esportivas mais acirradas.

            Em 2024, a estadunidense Simone está completamente recuperada, mas foi substituída, em outra competição, a de pingue-pongue, pela catação de risco do exímio brasileiro Hugo Calderano. Hugo catou cisco limpando a própria mesa do jogo.

 HUGO CALDERANO É CAMPEÃO DA COPA DO MUNDO ITTF DE TÊNIS DE MESA 2025 BATENDO O NÚMERO 1 DO MUNDO, EM 20/4/2025

Mesatenista brasileiro faz história com o maior título de sua carreira e o primeiro ouro das Américas na competição, derrotando os três melhores do mundo.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

 


PAPA FRANCISCO, NHÁ CHICA E CÔNEGO VÍTOR

O Papa Francisco brindou o Sul de Minas com a efetivação da beatificação de dois santos negros, a Nhá Chica e o Cônego Vítor. Nepomuceno está, de modo especial, incluída nesta efeméride, pois a Nhá Chica (Francisca, como o Papa) tem na irmã Débora Miguel a entusiástica campeã de sua devoção e o Cônego Vítor tem no Quidinho Brandão e na família Abreu Salgado fieis defensores de sua memória. A primeira biografia do cônego foi escrita pelo professor João de Abreu Salgado, batizado e educado por ele, seu compadre e apóstolo de sua pedagogia.

O Papa Francisco faleceu em 21/4/2025, Tancredo Neves em 21/4/1985, Tiradentes em 21/4/1792. Jucelino Kubitschek inaugurou Brasília em 21/4/1960.  Todos são arautos da igualdade, fraternidade, não-discriminação, democracia e paz. Simbolizam a luta pelo reconhecimento da magnífica contribuição da população negra ás grandezas brasileiras, exemplificada nos dois santos mencionados.

O livro VIDA DO PADRE VÍTOR foi publicado em 1946 e reeditado em 14/11/2015, data da beatificação do santo pelo santo Papa Francisco.

sábado, 26 de abril de 2025

 


Em 27/12/2014, divulguei o seguinte texto. Hoje em 26/4/25, dia do sepultamento de Francisco, reproduzo-o em homenagem a este extraordinário herói.

O GUEVARISMO CRISTÃO

DO PAPA FRANCISCO

João Amílcar Salgado

Para os radicais do partido republicano, Obama é socialista. Para os radicais da direita católica, o papa Francisco é socialista. Para ambos os agrupamentos radicais, a comprovação dessa rotulação ideológica de Obama e Francisco vem da cooperação entre os dois para reconciliar EUA e Cuba.

O papa Francisco é jesuíta e foram os jesuítas os autores da mais prolongada experiência comunista no mundo moderno, quando criaram as reduções ou missões no cone sul das Américas. Em vez do lógico codinome Inácio, decidiu assumir o nome Francisco, sem dúvida para apontar seu modelo de cristianismo calcado em Francisco de Assis, o mais socialista dos santos. Entre as vertentes franciscanas, há inclusive aquela que propõe a substituição da plenitude dos tempos por uma sequencia ascensional, que parte do padre eterno, passa pelo filho salvador e chega enfim ao espírito igualitário. De fato, o Divino Espírito Santo, celebrado nas festas do Divino difundidas por todo o Brasil, é a expressão do acolhimento popular a tal doutrina.

O papa Francisco é argentino e deve orgulhar-se de ser conterrâneo tanto de Ernesto Guevara como das Avós da Praça de Maio - e também de José de San Matin, de Juan Cesar Garcia, de Carlos Gardel e de Maradona.  E ainda de ter parentesco espiritual com Gabriela Mistral, Pablo Neruda, Salvador Allende, Simon Bolívar e Tupac Amaru. Assim ele está intelectualmente bem distante dos ideólogos seja do partido republicano dos EUA, seja do Salon Beige católico da França.

Sua referencia como papa é o papa João 23. Sua estratégia vem da consciência de seu carisma. E tem raro senso de oportunidade. Sabe que não pode deixar de aproveitar a oportuna presença de um democrata negro na presidência dos EUA, contemporaneamente a seu papado. E sabe também que a oportunidade de Obama ficar na história, com alguma realização a mais, além de sua dupla eleição, é agora, quando não tem de cuidar de reeleger-se. Esta é, sem dúvida, a base da comunicação entre ambos.

Obama tem de conseguir, no final de seu governo, três vitórias históricas, no plano interno: consolidar o neo-crescimento econômico, fechar Guantánamo e submeter a National Rifle Association. No plano externo, basta-lhe reatar com Cuba.  É quase certo que isso passou pela conversa entre Francisco e Obama. O cacife de Obama é seu cuidadoso estilo de lidar com racistas e belicistas, estilo este que, em vez de elogios, lhe tem valido acusações de covarde. Ele pode, no final do governo, comunicar a todos que a paciência aí implícita pode findar e que um Obama latente que nunca veio à tona pode emergir e patentear-se. Sim, Obama é o potencial líder de uma guerra civil, evidentemente evitável e anteriormente improvável, de negros e hispânicos contra racistas e belicistas.

O Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, desde sua criação, estuda médicos ligados à política, como, entre muitos outros, JK, Clóvis Salgado, Émile Littré,  José Rizal, Norman Bethume e Che Guevara. Quem conhece a biografia do médico Ernesto Guevara e quem acompanhou sua evolução ideológica sabe que o fascínio exercido por ele sobre gerações de várias tendências se assenta em pontos comuns entre este herói, o papa e Obama. O lado supra-marxista do guevarismo terá novo significado se Obama e Francisco continuarem de mãos-dadas.

 

sábado, 12 de abril de 2025

 

INACREDITÁVEL

João Amílcar Salgado

JASON STANLEY,  professor de filosofia da Universidade Yale, EUA, vai deixar o país diante da ameaça de uma ditadura no país. É autor do livro COMO FUNCIONA O FASCISMO (2018), traduzido para mais de 20 idiomas, Stanley está convencido de que o governo de Donald Trump está funcionando assim. "Acho que já somos um regime fascista", diante da repressão às universidades, disse   em entrevista à BBC, quando confirmou que  vai mudar-se para o Canadá.  Igualmente, outros dois importantes acadêmicos de Yale e críticos de Trump, os professores de história Timothy Snyder e Marci Shore, também anunciaram que vão para a Universidade de Toronto, no Canadá. Stanley, 55 anos, é filho de imigrantes europeus (sua avó fugiu da Alemanha nazista com seu pai em 1939). Seu último livro é ERASING HISTORY: HOW FASCISTS REWRITE THE PAST TO CONTROL THE FUTURE ("APAGANDO A HISTÓRIA: COMO OS FASCISTAS REESCREVEM O PASSADO PARA CONTROLAR O FUTURO" (2024).

segunda-feira, 7 de abril de 2025

 


CARINHOSA HOMENAGEM AOS RIBEIRO GARCIA

João Amílcar  Salgado

O jovem historiador nepomucenense Evandro Ribeiro Olímpio declarou que teve a satisfação de conversar com o  Manoel Ribeiro Garcia (pai do Josi, do Eduardo e da Jane), que está com 95 anos. Afirmou que ele é pentaneto do fundador de Nepomuceno, Mateus Luís Garcia, bisneto do primeiro administrador distrital, coronel Joaquim Ribeiro, e neto do primeiro chefe do executivo municipal, Manoel Correia Ribeiro. Esta é uma homenagem muito feliz. Comentei-a dizendo que o Manoel é meu primo e foi meu inesquecível colega desde o curso de admissão ao ginásio da Vila, quando causou admiração pelo domínio da gramática e pelos dotes de precoce orador. Se tivesse continuado os estudos, não tenho dúvida de que chegaria a desembargador. O Evandro citou seus filhos e eu cito dois irmãos que trago no coração: a Maria Marly, a moça mais linda de sua época (sósia da Sarita Montiel), e o Joãozinho (Vânia) que foi meu companheiro, também inesquecível, em minha primeira viagem a BH, notável por seu inesgotável repertório humorístico, do qual estamos aguardando um delicioso livro. Esta terna homenagem é extensiva a toda a família.

segunda-feira, 31 de março de 2025

 


CARLOS AMÍLCAR COLABORA COM  MELHOR SAÚDE PARA MINAS

João Amílcar Salgado

O ministro Padilha veio a BH para providências na saúde em 29/3/25, tendo Carlos Amílcar Salgado em sua equipe. Entre elas, julgo da maior importância a retomada da fábrica de soros da Funed e a implementação da velocidade do telessaúde na UFMG, liderado pelo brilhante especialista Antônio Luiz Pinho Ribeiro. Antônio Dilson Fernandes e eu preparamos o primeiro telessaúde, mas a ditadura vigente em 1981 ordenou que a Telemig vetasse a proposta. Antes, o Centro de Memória da Medicina documentou três experiencias precursoras em Minas: duas com pombos-correio e uma com teco-teco, que lembraremos a seguir.

sexta-feira, 28 de março de 2025

 


A ORATÓRIA VOLTA AO PALCO

João Amílcar Salgado

Em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020), descrevo a admiração dos estudantes pelos oradores na década de 50. Os grandes astros de então eram o Carlos Lacerda, os irmãos Carlos e Paulo Pinheiro Chagas, os nepomucenenses João Pimenta da Veiga (pai) e Xico Negrão, o Pedro Aleixo, o Adauto Lúcio Cardoso, o Aliomar Baleeiro e o Afonso Arinos (sobrinho), entre outros. As aulas de patologia de Carlos Pinheiro eram assistidas por alunos de direito e engenharia, não obstante o conteúdo. Em qualquer júri, estes e os de medicina se misturavam na plateia. Na Vila, sabíamos que a galeria dos Lima, formada por Alice, Pimenta, Xico, Tio Zezé, Vico, Batista, Assis, Neca Correia, Getúlio, Marcílio, Dario, Léla, Rubem e Celso Lima, junto com o Neca Firmiano eram do mesmo nível.  O Zezé da Leleza, o Marcinho do Soneca, o Carlinho do Sargadinho, o Toninho da Lolô, o Julinho Penha e o Toninho da Samina e eu passávamos horas imitando aqueles, sendo que o Zezé (José Maria Ribeiro, também Lima) gastou o que tinha e o que não tinha com a Esther Leão, a maior treinadora de oradores do país.

 Digo isso porque agora tivemos um desfile de oradores famosos, entre os advogados defensores dos denunciados, no julgamento do STF de 25/3/25. O Brasil inteiro estava focado no que argumentavam e eu, nostálgico, só analisava sua oratória. Matei toda a minha saudade.

Por oportuno, lembro que, na tradição luso-brasileira, refulgem os oradores sacros João 21, João de Deus, Santo Antônio, Padre Vieira e Helder Câmara, estando entre eles, hoje, na mesma altura, o nepomucenense Luís Henrique Eloy. E entre os advogados citados não poderia faltar um Lima: José Luís de Oliveira Lima – conhecido no meio forense como dr. Juca Lima, xará de nome e de apelido de nosso queridíssimo médico dr. Juca.

quarta-feira, 12 de março de 2025

 


LUIGHI – VÍTIMA DE CRIME DOCUMENTADAMENTE IMPUNE

Joáo Amílcar Salgado

O jovem Luighi, jogador juvenil do Palmeiras, foi vítima de racismo em jogo contra o Cerro Porteño do Paraguai, pela Copa Libertadores sub-20, em 6/3/25. Apontou o episódio ao árbitro e aos policiais presentes. Disse que se aproximou do árbitro para denunciar: “ME CHAMARAM DE MACACO! ELE NÃO LIGOU. FUI AOS POLICIAIS E NÃO FIZERAM NADA…!”  O choro de adolescente exibido em todo o Brasil e em todo o mundo escancarou tanto o crime como a impunidade.

Antes denunciamos o racismo no futebol contra o brasileiro Vinícius Jr, quando mostramos que o racismo na Espanha traz o paradoxo de que, num país mestiço, seus racistas traduzem a necessidade de se sentirem brancos, agredindo pessoas acentuadamente pretas. Afirmei que ali a hostilidade aos negros é simbolizada na morte de animais tipicamente pretos, na tourada, espetáculo resultante de dominações negras sob egípcios e árabes.

No Paraguai, a maioria mestiça da população manifesta necessidade análoga. Curiosamente se orgulham do idioma e da cultura guarani. Vale lembrar que esta cultura é abrangente, pois o território guarani original ultrapassava bem mais do que os limites paraguaios, alcançando todo o sul e parte do sudeste brasileiro e ainda todo o sul matogrossense. Isso explica por que muitas de nossas músicas sertanejas e seresteiras são verdadeiras guarânias. Demais, os guaranis dos Sete Povos das Missões viveram uma das maiores experiências igualitárias da humanidade. A severa punição individual dos racistas será uma conquista dos craques brasileiros Luighi e Vinícius e também de todos nós.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

 


OS GALIZZIS SÃO GENTE MUITO QUERIDA

João Amílcar Salgadp

João Galizzi, J. B. Greco e Romeu Cançado estão definitivamente na história da medicina brasileira como líderes dos baetófilos clínicos, discípulos que passaram, a partir do final da década de 30 do século 20, a aplicar na clínica médica os princípios científicos de seu mestre, o bioquímico Baeta Viana.  Esta corrente representou um salto de qualidade na assistência médica, não só em Minas mas no Brasil, inclusive com a pioneira interiorização da tecnologia laboratorial simplificada. Resumi João Galizzi como “retilíneo em ciência e ética; paladino da melhor relação médico-paciente”.  Foi catedrático de Clínica Propedêutica na Faculdade de Medicina da UFMG, onde suas lições de Semiologia Médica, ministrada com o auxílio de seletos seguidores fieis, formou multiplicadores docentes e não-docentes, em sucessivas gerações,  todos testemunhas de que nessa disciplina foi recebida a estrutura nuclear de suas reconhecidas competências.

De minhas conversas com esse meu mestre, soube que a família Galizzi veio da Itália, um ramo para o Brasil e outro para a Argentina. Quando as AVÓS DA PRAÇA DE MAIO receberam o PRÊMIO DAS NAÇÕES UNIDAS de 2003, verifiquei que um dos netos desaparecidos era Galizzi. De cerca de 300 netos só 139 foram encontrados. A remanescente das “abuelas” Mirta Acuña de Baravalle faleceu aos 99 anos, em 2024. Durante 48 anos lutou para conhecer o destino da sua filha Ana Maria, grávida de cinco meses, e o do seu genro Júlio Cesar Galizzi, sequestrados em 1976 pela brutal ditadura do Cone Sul.   Aquela criança, se sobreviveu, hoje deve ter outro sobrenome e não sabe que pertence à ilustríssima família dos Galizzi.

Este registro é homenagem às avós de netos desaparecidos, a vó Mirta, à família Galizzi, à família de Rubens Paiva e a todas as vítimas de todas as ditaduras.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

 


CAMPO DE AVIAÇÃO DA VILA

João Amílcar Salgado

            A ligação mais umbilical de Nepomuceno com a aviação vem do parentesco do inventor Santos Dumont com a família local Ribeiro Costa Lima. Ao mesmo tempo, a família Veiga exibe vários vínculos com a aviação, a começar pelo local oferecido por ela para a construção do campo de pouso. O notável cientista João Batista Veiga Sales é o membro desta família que mais se identificou com a aviação, tendo sido piloto esportivo e paraquedista. E tem sido seguido por primos seus, como o brigadeiro da aeronáutica Adalberto de Rezende Rocha e o piloto comercial Helvécio da Veiga Rezende. Por outro lado, as relações de parentesco entre o governador Kubitschek e a família nepomucenense Negrão de Lima era propícia à criação de um aeródromo local, dentro do binômio juscelinista de “energia e transporte”, lema de seu governo estadual. Mas a pista de pouso só foi construída na época do governo federal de JK. Dois dos primeiros usuários foram o engenheiro Zé Barati e o governador Chico Negrão.  Sem dúvida teria sido completada com hangar e demais requisitos, em 1965, se JK, em vez de exilado do país pela ditadura, tivesse sido reeleito presidente.  Por outro lado, a Usina de Furnas, iniciada pelo mesmo JK em 1958, ergueu sua rede ao RJ passando junto ao campo da Vila, impondo sua desativação. Hoje é hangar avícola.

Já o aeroclube de Lavras foi fundado em 1940, no clima da 2ª guerra mundial, mas o campo de aviação só foi inaugurado em 1943. Entre 1956 e 60 a empresa comercial Aerovias-Real chegou a utilizá-lo, com aviões DC3, de um dos quais desembarquei, pela primeira vez de um avião, em 1956. Vários episódios marcam a aviação nas proximidades de Nepomuceno. Em 1942 o oficial da FAB Eduardo Mendes fez, de emergência, o pouso incólume de um monomotor NA, numa várzea de Boa Esperança (há a foto), sendo depois brindado com um baile.  Em 1956, logo após a inauguração do campo de pouso de Três Pontas, o jovem Tarley Vilela saltou sem paraquedas de voo demonstrativo, e nada sofreu.  Mais tarde, no Pantanal Matogrossense, Tarley repetiu o  salto de um avião maior, salvando-se a nado. Nos anos 50, a FAB cogitou construir uma base onde hoje é o novo cemitério da Vila. Finalmente, houve o pouso de caça supersônico Phantom F5 da FAB numa reta da rodovia entre Boa Esperança e Três Pontas, em 14/8/1980, quando trombou com um fusca. Além disso, o Lair Rolino, no 1º salto de paraquedas na Vila, chegou ao solo são, mas desmaiado (segundo ele dormindo), o Mudinho Jorge Mudesto imitou o Lair usando um guarda-chuva e se deu mal, o primeiro voo rasante da Vila derrubou de susto o artífice Caco de sua alongada escada de pintor, o Zico do Miceno desapareceu no alto da Serra em surto delirante de astronauta, enquanto o borracheiro-inventor José Fernando Pedro construiu um helicóptero no quintal de sua casa.

IMPORTANTE. No livro O RISO DOURADO DA VILA (2020) relato a versão popular circulante em 2003, sobre o pouso do avião F5. Aproveito para atualizar a informação sobre o dono do fusca (amassado pelo caça) José Francisco Spinelli, falecido em 2023, consanguíneo do nosso Fausto, que depõe no vídeo https://youtu.be/xzZXPFjVRHo

 

 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

 


CRIME DE MORTE NA SAÚDE

João Amílcar Salgado

Em 2009 fui um dos primeiros a contestar a criação dos cursos de biomedicina no Brasil. Divulguei uma advertência contra a criação desse absurdo na UFMG. Dizia então: “A biomedicina é uma grilagem ocupacional. Acabamos de tomar conhecimento pela televisão de triste e inacreditável notícia: A UFMG ESTÁ CRIANDO UM CURSO DE BIOMEDICINA! Se for verdadeira e se a diretoria da Faculdade de Medicina e sua Congregação nada fizeram contra tamanha leviandade, então a memória da instituição e das pessoas omissas estará irreversivelmente manchada. Isso se aplica igualmente à Associação Médica de Minas Gerais, ao Conselho Regional de Medicina, ao Sindicato dos Médicos e à Academia Mineira de Medicina – extensivamente a cada um e a todos os respectivos membros.”  Diante disso, os proponentes esperaram a poeira baixar e, com o acovardamento do diretor Xico Pena, tal curso foi criado, em 2010, na Faculdade de Farmácia da UFMG e outros tantos pelo país afora.

Restou que minha advertência hoje equivale a melancólica profecia de lesões e mortes cometidas por egressos instigados ao exercício ilegal da medicina. Exemplo é uma morte que deveria ser abafada, mas chegou ao noticiário. Foi o assassinato da jovem Iris Martins cometido pela biomédica Lorena Marcondes, em Divinópolis, em 8/5/23.  A imprensa assinalou que o Conselho Regional de Biomedicina admitiu que sabia, há mais de um ano, que a criminosa trabalhava com procedimentos proibidos e confirmou que, apesar de constatar o exercício ilegal da medicina, os fiscais não tomaram nenhuma atitude efetiva para coibi-lo.

Como historiador da medicina, afirmo que o exercício da medicina por não-médicos sempre ocorreu em locais carentes de médicos ou com médico inacessível. Os profissionais habilitados eram substituídos por boticários, barbeiros, dentistas, veterinários, fisioterapeutas, esteticistas e curandeiros, com algum ou nenhum treinamento. A autonomia da indústria de cosméticos, as novas tecnologias, a população crescente de idosos sadios, a valorização da beleza feminina e masculina, os procedimentos anti-obesidade,  o transplante de cabelo e outros novos procedimentos de cirurgia plástica multiplicaram as “trambiclínicas”, gambiarras mais do que improvisadas, desprovidas de gente e recursos apropriados. Obviamente, desgraças como a descrita continuarão acontecendo, sendo ocultada a maioria.

Os cursos de biomedicina foram criados antes da indecorosa liberação total da criação de cursos de medicina no Brasil e países vizinhos. Ora, depois destes aqueles perderam o sentido. Cumpriria, pois, aos ministérios da educação, da saúde e do planejamento a missão óbvia de disciplinar este fundamental setor profissional, por exemplo transformando os cursos já existentes de biomedicina em cursos decentes de medicina e reciclando seus egressos.

domingo, 16 de fevereiro de 2025


 

MILTON SIMAS – APÓSTOLO DA CALISTENIA

A farmácia do Milton ficava na rua Direita, em frente ao Clube, e diariamente às 6 da manhã os vizinhos, entre eles nós, passavam a ouvir, em alto volume, o programa radiofônico de ginástica. O Milton seguia as instruções em sua sacada no quintal, mas quando era correr, pular-corda ou na bicicleta ele vinha pela rua afora. Certo dia ele pulava corda em nossa frente, quando ouviu que nosso rádio também irradiava sua ginástica. Feliz, entrou rápido pelo jardim e surpreendeu meu pai espichado na cadeira de balanço, ouvindo os enérgicos comandos. O esportista disse: “mas você está apenas escutando, não está executando!”. E o João Sargado, sorrindo: “executo sim, mas apenas mentalmente!” E o mais fiel dos discípulos do Miltom sou eu, inclusive na execução, por mais que reconheça o mérito de meu pai, como inventor da calistenia virtual.

O que mais eu invejava no Milton era pular corda. Com perfeição, ele a zunia cada vez com maior velocidade e nós, em volta boquiabertos, lhe causávamos enorme satisfação. Outra inveja, esta apreensiva, era quando ele recebia uma cobra capturada nalguma fazenda e a aprisionava numa gaiola especial, a ser remetida ao Butantan ou ao Ezequiel Dias. Uma terceira inveja era quando ele e sua esposa, a querida e sempre animada Dagmar, davam show de dança no clube em frente. Uma quarta não inveja, mas admiração, era o garbo dele e dos estudantes nos desfiles do ginásio

Ele perdeu o pai muito cedo e meu pai o ajudou a se diplomar na profissão paterna. Sua mãe, a guerreira dona Carminha, prima de minha mãe, queria vender a farmácia como último recurso para sustentar e educar as crianças. Ninguém a quis comprar. Meu avô era diretor do grupo escolar e sumariamente a contratou. E ainda pediu que meu pai, recém-formado, viesse de Lavras para dividir a renda da farmácia com ela. O estabelecimento ficou muito popular e deu tudo certo.

Quem quiser conhecer a família da Dagmar leia o ótimo livro “NO MEU ENTARDECER - RICAS LEMBRANÇAS” de sua irmã Beatriz de Abreu Chaves. Já os filhos e netos do casal Milton-Dagmar são gente muito querida, culta e finamente educada, com destaque todo especial para minha maravilhosa amiga de juventude Consuelo Simas.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

 


O LAND-ROVER DO PASSATA

João Amílcar Salgado

A Vila foi considerada a terra do jipe, não só pela adesão do povo a este veículo,  como substituto do cavalo, mas pelo sucesso, aqui e fora,  da capota-de-jipe inventada pelo genial nepomucenense Dito Capoteiro (Benedito Barbosa). No auge do jipe, qualquer filho de fazendeiro fazia sucesso com as moças, levando-as para uma vortinha. O maior desejo do jovem Passata era fazer o mesmo, sonho algo distante. Mas um milagre o bafejou, pois seu pai, o Luiz Barbeiro, se tornou cabo eleitoral do Ademar de Barros. Este magnata mandou um caminhão de enxadas destinadas a fisgar eleitores e, para melhor distribuí-las, veio com elas uma maravilha. Era um jipe inglês chamado lendirrôve, que a Vila inteira passou a comparar com o jipe comum. O Passata ficou embriagado desta vez de felicidade. As mães passaram a gritar: tirem as crianças da rua que ele ainda não sabe dirigir!  E as pessoas vinham vê-lo aparecendo pelas esquinas, aos arrancos e guinadas. Lutando com as marchas daquela novidade, ele próprio não conseguia apreciar os apreciadores.

            Exatamente nesse dia a prefeitura abriu um buraco bem grande na esquina entre o grupo-escolar e a santa-casa. Estávamos dormindo e fomos despertados por enorme barulho. Era o lendirrôve com a metade dianteira emborcada. Os passantes vieram acudir  eventuais feridos. O Passata, que devia estar ao volante, não estava. No banco dianteiro direito estava a Curujinha, apenas de calcinha e sutiã, mas, em vez de exibir algum trauma, ressonava.  Tempos depois, recrutamos apanhadores de café, e quem era um destes? A Curujinha. Perguntei a ela se se lembrava do lendirrôve. E ela, com um suspiro saudoso: “eu se alembro, uai!...”

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025


 

BOB MARLEY FÃ DE NÓS E NÓS DELE

João Amílcar Salgado

O astro rastafari jamaicano BOB MARLEY hoje completaria 80 anos (faleceu com 36).  Em 1979 tomei conhecimento dele e me alegrei de que fazia parte do movimento panafricanista, que eu pesquisava como histoSriador, mesmo antes do filme RAIZES de Alex Haley, de 1977. Acompanhei a visita de Marley ao Brasil, onde jogou futebol com Chico Buarque. Guardei comigo sua frase: VOCÊS ESTÃO RINDO DE MIM POR EU SER DIFERENTE - E EU ESTOU RINDO DE VOCÊS PORQUE VOCÊS SÃO TODOS IGUAIS. Seu primeiro sucesso foi a canção IS THIS LOVE, de 1978. Gilberto Gil traduziu NO WOMAN, NO CRY (NÃO CHORE MAIS), de 1974.

https://youtu.be/69RdQFDuYPI

https://youtu.be/HP9v3s8U71M

 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

 


MEU NAMORO COM A CIRURGIA TORÁCICA

João Amílcar Salgado

Ainda estudante de medicina, salvei a vida do Braz, menino meu conterrâneo e parente, que estava sendo tratado de tuberculose, mas não melhorava. Pedi a sua tia que   o trouxesse a nossa pensão, na rua Pernambuco, e logo mostrei seu caso aos professores Luiz Andrés e Javert, que identificaram uma imagem metálica no seu pulmão. O adolescente era aprendiz na sapataria do Jaime do Sobém e ali se usava ficar com os ilhoses na boca, antes de aplicados ao sapato. Aspirou um - e estava feito o diagnóstico. Ficara tão fraco que o o estudante Edward Tonelli ofereceu seu sangue, logo transfundido pela doutora Teresa Sebastião. A puberdade refreada ocorreu em dias e ele logo estava ótimo.

No meu 6º ano, chega dos EUA o Cid Filgueiras que me fez seu auxiliar favorito. Bênção do alto que me fez conhecê-lo e muito logo era como meu irmão, inclusive por sermos ex-meninos-prodígios. Ele chegava num pequeno carro inglês, um prefect, e íamos para um centro cirúrgico qualquer. Casos esquivados dos demais cirurgiões eram empurrados para ele, que os enfrentava não só devotadamente, mas com ágil e elegante habilidade. Dizia: vou  fazer de você o maior cirurgião pulmonar. Eu respondia: já sou um médico irrecuperavelmente polivalente. Foi nosso campeão em esôfago-curto. Mostrou-me um minúsculo prematuro e disse: vou lutar como um leão para salvá-lo. Tive que ir a um plantão e quando voltei ele estava no quarto dos internos, deitado na minha cama e meu travesseiro estava ensopado de lágrimas: não salvara o bebê! Aquele travesseiro era a prova cabal de que eu era o amigo que jamais teve. Outro caso foi o do estudante que operamos de bronquiectasia e ficamos a manhã toda na sala cirúrgica. Afinal, na recuperação imediata, a equipe me disse: agora é só com você. Fiquei aspirando a copiosa secreção, dia e noite, por duas semanas. Ele ficou ótimo e hoje é um dos meus grandes amigos.

Compete com o Cid em minha admiração a dupla José Sílvio / Overholt. Em 1955 e em 1966, diplomaram-se na UFMG dois gigantescos cirurgiões brasileiros,  José Sílvio Resende e Wilson Abrantes, diamantes forjados entre o ocaso da hegemonia franco-alemã e o advento da influência anglo-saxônica.  O Zé quis restringir-se à pneumologia, mas logo já dominava qualquer área. Sua incomensurável cultura médica, construída em continuidade harmoniosa com admirável cultura geral, em que o biombo de irrevogável modéstia não conseguiu ocultar o historiador, o beletrista, o orador, o humorista, o líder (formador de gerações de notáveis discípulos, entre eles quatro colegas meus de turma: Marcelo Ferreira, Luiz A. Luciano, Ernesto Lentz e Gilberto Lino), o músico (consangüíneo de Abel Ferreira, conviva de Goiá), o pescador e o sertanista.

O André Esteves de Lima, da turma de 52, que galgou alto prestígio nos EUA, foi elogiado por Richard Overholt, espantado com seu perfeito domínio anatômico. Respondeu que ele ficaria mil vezes mais impressionado com o Zé Sílvio. O maior cirurgião torácico da América imediatamente abriu uma vaga excepcional no seu serviço de Boston, para ter o prazer de contar com o Zé, que por questões pessoais não foi. Overholt hoje é conhecido como o iniciador da guerra médica contra o tabaco, resultante de sua experiência com o tumor pulmonar. Ele ficara célebre como o primeiro a fazer uma pulmonectomia direita para tratar esse tumor, mas acabou confessando que eliminou mais tumores combatendo o tabaco do que com o bisturi.

 

sábado, 25 de janeiro de 2025

 


ENVENENAMENTO POR ARSÊNICO E POR AMIANTO

João Amílcar Salgado

Passei a infância em meio ao arsênico e a outros venenos usados na farmácia e na agricultura. Um de nossos brinquedos era rodar a manivela da “máquina de tirar formiga”, que soprava o arsênico nos formigueiros. Cada nome eu procurava na biblioteca de meu pai e com 12 anos eu já podia dar aula de química. Falei ao padre William, na aula de tomismo: “Esse santo que o senhor citou, São Boaventura, foi ele que descobriu como isolar um veneno, o arsênio; santo pode fazer isso?” Ele deu uma gargalhada dizendo: “Essa eu não sabia!...” Mas o uso do arsênio bruto já era dominado pelas civilizações anteriores e com ele foram envenenadas personalidades históricas. Que isso tem a ver com Minas?  A maioria das captações de água das primeiras cidades mineiras e de muitas outras fornecia água de arsênico da mineração para os habitantes. Mais ainda, uma fábrica de arsênico foi instalada em Passagem de Mariana, pelos ingleses. Isso nas próprias margens do histórico Ribeirão do Carmo, onde foi achado o primeiro ouro, o preto. O serviçal da fábrica era apelidado de péla-saco, pois o arsênico depilava seu escroto. A canga ou itabirito é que continha arsênio e nela se faiscava o ouro. Ora, a canga é muito esponjosa e assim geradora de inúmeros olhos dágua, inclusive minas dágua para beber. Diante disso, seria correto captar água do rio das Velhas para Belo Horizonte? Os técnicos da época responderam: “Quem sabe disso? Ninguém, então vamos captar...”

Já o amianto, foi e ainda é um escândalo total. Os donos do negócio sabiam que seria proibido. Trataram de vendê-lo como modernidade para encanamento aos ingênuos prefeitos. Até hoje esses canos estão sob as ruas de cidades de todo o país, chegando a mais de 50 no Ceará, várias também no estado de S. Paulo e também em Nepomuceno. O maior perigo do amianto é inalatório e assim deve ter comprometido o pulmão dos operários que instalaram os canos e de todos os que os manipularem para reparos, inclusive ao eliminá-los. Quem quer beber dessa água? Minha família, por exemplo, vive o drama de consumir uma água assim, que veio para substituir a água que tão generosamente tínhamos oferecido à cidade. A antiga captação da Vila Esméria era de água mineral puríssima, que hoje ainda pode ser bebida na Mina Evangelina, completamente gratuita.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 


AMEAÇAS SOFRIDAS

João Amílcar Salgado

A notícia, nos EUA, de tentativa de assassinar Trump e do assassinato de um chefão de plano de saúde teve sequência, no Brasil, na notícia de tentativa de assassinar o presidente Lula e no sucesso do filme sobre o assassinato de Rubens Paiva, estrelado pelo nepomucenense honorário Selton Melo, Isso tudo me fez lembrar ameaças que sofri na ditadura. Em um debate sobre a inovação do ensino da medicina na UFMG, fiz um comentário pelo qual fui metralhado por vários colegas, inclusive alguns diletos amigos. Eu disse que as inovações nunca dão certo, porque não são propostas por clínicos; os proponentes costumam ser psiquiatras, pedagogos, sanitaristas ou legistas, que acabam dizendo aos clínicos o que, como e quando devem ensinar. Depois eu soube que um legista meu ex-aluno confessou que tinha porte de arma e que, se ouvisse outra vez esta minha declaração, não poderia se conter e eu seria alvejado. Isso foi falado numa reunião de legistas e um deles, que era confesso idólatra de Hitler, neo-guru do próprio, pediu a primazia de atirar antes dele. Outra ameaça que sofri na ditadura foi de outro ex-aluno que era belga e era auxiliar de tortura no DOPS. Ele foi o principal redator de uma lista de inimigos do governo, que deviam ser assassinados, caso o general Sílvio Frota assumisse os rumos do regime. Eu estava na lista. Infelizmente, estudantes fanáticos, desequilibrados ou financeiramente carentes eram recrutados para funções de “arapongas” e de “cachorros”, bem como outras missões criminosas.

Mais tarde, protestei junto ao CRM pela censura que seu antiético diretor me fez, impedindo a publicação de um texto meu. Mas exigi que meu protesto fosse levado ao colegiado. O diretor era tremendo mau-caráter. Em vez de encaminhar minha comunicação diretamente ao colegiado, pediu o parecer daquele citado legista. Este não apenas engavetou a coisa, mas vasculhou os arquivos e “inventou” um débito meu, que, corrigido, somou certa importância. Procurei dois conselheiros, Valênio e Ajax, para que anulassem a cobrança. Ambos me advertiram: “esse cara é perigoso, faça o pagamento e finja que nada estranho aconteceu”. Fiz.

Note-se que um dos fundadores do atual IML-MG, logo após a Revolução de 30, foi o primo de minha mãe, o nepomucenense Oscar Negrão de Lima, catedrático de Medicina Legal da UFMG. Sua biografia foi escrita por meu querido amigo, legista e historiador Cristobaldo Mota, inclusive com subsídios que carinhosamente lhe forneci.

 


domingo, 19 de janeiro de 2025

 

HOMENAGEM A SEBASTIÃO LOPES PEREIRA

João Amílcar Salgado

A competição pelo ENEM (1998) e pelo SISU (2010), acaba trazendo à internete uma espécie de olimpíada de redação, de matemática e de ciências. Isso me faz homenagear meu queridíssimo amigo e colega, desde o exame vestibular, Sebastião Lopes Pereira. Eu disse dele: soberano tanto no vernáculo como na clínica geral, na pediatria e na anestesia. Conheci-o no “cursinho do Guerra”, quando ficou famoso por vencer um desafio de gramática feito pelo filólogo Hilton Cardoso, cujo prêmio era um cafezinho. Nasceu na mineiríssima cidade de Coimbra, sobrenome do fundador Manoel, vizinha a Viçosa. A Coimbra sertaneja tem, pois, um filho cujos atributos intelectuais impõem necessária relação com a tradição culta acumulada às margens do luso Mondego. Após o vestibular, indiquei-o para meu substituto como professor de redação no curso pré-médico, criado por nós no diretório acadêmico. Ele ali foi uma das estrelas do esplêndido corpo docente, tendo a seu lado, Ângelo Machado, Marcos dos Mares Guia, Armando Gil, Lineu Freire Maia e Jáder Siqueira, cujos QIs somados chegavam a perto do mil. Esse nosso cursinho – público, democrático e destinado aos vestibulandos sem recursos - causava inveja não só ao José Guerra Pinto Coelho, mas ao Mário de Oliveira, donos dos cursinhos privados de então, ambos meus enaltecidos professores no Colégio Estadual.

O interesse pela medicina e pela objetividade levou o Sebastião inicialmente para a clínica pediátrica, quando foi interno no Hospital São Vicente, ao lado do José Costa Val, do João Cândido dos Santos e da Penha Campos. A seguir, adicionou a seu preparo a ciência e a técnica da anestesia, aproveitando sua especial afinidade pela farmacologia. Exerceu-a ao lado de grande amigo comum, Erivaldo Couto, da turma e 1959 de nossa Faculdade, no Hospital Sara Kubitschek e no Hospital Maria de Lourdes Drummond, ao mesmo ttempo em que  atendia pediatria no sistema estadual de saúde. Nisso fez parte de minha inspiração para a proposta da equipe mínima de três médicos para cidades do interior, na qual o pediatra acumula a anestesia.

O petequista Sebastião se casou com a Célia Azevedo, bisneta do Coronel Manoel Alves de Azevedo, o legendário Mané Marreco da fazenda Ariadnópolis, em Campo do Meio, próxima a Nepomuceno - daí minha alegria de, sendo parente dela, ser contraparente do Tião. Estudo a legenda do Marreco, de quem meu avô João de Abreu Salgado era compadre e de cujas duas esposas era consanguíneo.  Por outro lado, para além de Ferreiras de Brito e de Azevedos, estudo as ascendências de qualquer Lopes e qualquer Pereira do mundo. Tenho dados que remetem os Pereira à família real e os Lopes a nada menos que Miguel de Montaigne, com quem, aliás, o Sebastião Lopes tem muitos pontos em comum.

 

 

 

 

 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

 


COLÉGIO DOS SONHOS

João Amílcar Salgado

            Aproveitando o Enem e as competições de redação, de matemática e outras ora noticiados, lembro que, em meu curso de pedagogia na Ufmg, o professor de administração escolar, o excelente Ennes Moreira, propôs um trabalho desafiador: se você fosse criar um colégio, qual seria seu projeto? Propus um colégio em que não houvesse mais que treze alunos por professor, em que não houvesse aula teórica e no qual o aluno cumpriria atividade pela manhã e pela tarde. Cada docente teria dedicação exclusiva e receberia 150% do salário pago pelo melhor colégio já existente. Haveria completo equipamento esportivo, inclusive piscina e ciclismo; completas instalações para aprendizagem culinária e completo ambulatório médico-odontológico. Todas as decisões seriam feitas em assembleia paritária de docentes, estudantes e funcionários, a qual elegeria o diretor e equipe, sem reeleição. O professor observou que a proposta o surpreendeu pela audácia, mas disse que eu teria de cobrar uma mensalidade altíssima e inviável. Respondi que não estava pensando em colégio lucrativo, mas público. Isso exigiria um pressuposto, no âmbito nacional, de sistemas de educação, saúde e transporte gratuitos para todos – não sendo impedida a opção das mesmas disposições no âmbito privado. Isso era uma aplicação ao ensino médio do que propúnhamos para o ensino superior, especificamente para o da medicina. Frequentava esse curso um colega que não conseguia disfarçar sua função de serviçal de informação da ditadura vigente, então início da década de 70 do século 20. Perguntou se poderia levar consigo uma cópia da proposta.  Respondi que a fornecia com o maior prazer e estava pronto para discuti-la em qualquer lugar com quaisquer interessados.

            Ainda sobre o Enem, esta é a oportunidade de homenagear meu querido colega de turma na medicina, Sebastião Lopes Pereira, a seguir.

            Anexo: fotos referentes a 3 dos primeiros educandários mineiros

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

 

CANA VERDE NA TEVÊ E NAS TELONAS

João Amílcar Salgado

Um trio caipira de Cana Verde é campeão do mineirês na internete, com muito humor. Chegou a ser tema do programa Fantástico da tevê e alcança até o cinema, junto a Maurício de Souza, em CHICO BENTO E A GOIABEIRA MARAVIOSA. Os três são o Gustavo Almeida Freire, apelidado de "Gustavo Tubarão", 25 anos, Sebastiao Fernandes Filho, com o apelido de "Tião Bruto Sistemático", 71 anos, e Isaac Duarte Ferreira, mais conhecido como "Isaac Amendoim", 11 anos. O povo de Cana Verde é o mesmo povo da Vila da outra banda da fazenda Congonhal, assim como metade de Campo Belo. O linguajar dessa gente já foi expresso por mim em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2004, 2020), também com humor. Nessa perspectiva é mais uma das inúmeras evidências de que somos habitantes do “umbigo do mundo”.

 

domingo, 12 de janeiro de 2025

 


PADRE-MÉDICO CARLOS VALADARES DE VASCONCELOS

João Amílcar Salgado

Hoje faço uma homenagem a um de meus grandes amigos, meu ex-aluno padre e médico Carlos Valadares. Anualmente ele celebrava a missa dos cadáveres, tradicional na UFMG. Após o ofício ele vinha beber o delicioso capucino da Leila no Centro de Memória. Disse-lhe que mais um ofício lhe cabia: uma aula de história da medicina sobre ser padre e ser médico. Pediu tempo para prepará-la. Ele saiu-se muito bem, comovendo a todos. Iniciou confessando que escondeu dos colegas, por bastante tempo, sua condição de padre, mesmo assim sofreu búlingue. Contou toda sua interessantíssima vida, especialmente sua atuação no pronto-socorro, junto às famílias dos atendidos. E encerrou com a passagem evangélica em que Jesus é questionado e hostilizado em sua cidade de Nazaré.

            O episódio aparece em Marcos, Mateus e Lucas. Este último, talvez por ser médico, inclui o aforismo “médico, cura-te a ti mesmo” que teria sido proferido pelos questionadores, enquanto Jesus retruca com outro aforismo de que “ninguém consegue ser profeta em sua própria terra”, exemplificando com os casos de dois profetas. Os mais hostis vinham alegando que não fez ali as curas que fez em Carfanaum e o expulsam da cidade. E mais: o arrastam até o alto do monte e quase o arremessam dali. Jesus se esgueira e escapa.

            O padre-médico Carlos comenta que o médico e o sacerdote têm de estar preparados para a ingratidão e todas as demais incompreensões. E acrescentou: concordo com o João Amílcar em que este evangelho é notável por definir o lado social da medicina, quando Jesus começa por citar o profeta Isaías, mostrando que a saúde é muito mais ampla do que a cura individual. Além de Jesus, Isaías fez de Francisco de Assis, Bento de Núrcia e o querido padre Carlos seus diletos discípulos neste conceito.

 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

 


JIMMY CARTER E HEINZ KISSINGER

João Amílcar Salgado

Desembarquei em João Pessoa para falar aos estudantes e, no aeroporto, o Jaime Scherby disse que ”por pouco, não me apresentaria a Rosalynn Carter, mas mesmo assim você  alcançou o suco de pitanga que preparamos pra ela; ela e você não são os mais fanáticos por este suco?”. Nessa época, agentes dos EUA me vigiaram em minha viagem a Puebla, no México. Havia uma inquietação direitista com a desenvoltura à esquerda de Jimmy Carter. Forjaram até a “Operación Marielitos” com migrantes cubanos, para sabotar o namoro pacifista Carter-Castro. Carter, contudo, repreendeu Geisel pela truculência ditatorial e em seguida deu asilo a Brizola, Este foi expulso do Uruguai, provavelmente por trama de Kissinger.

O alemão Heinz Kissinger parece que no fundo menosprezava a mentalidade ianque, atrevendo-se a  reorientar seu conservadorismo de faroeste. Antes de perceber-lhe o sinistro perfil, me interessei pelo sobrenome, por significar beijoqueiro (kisser ou kissinger), referido ao inseto barbeiro (kissing bug), objeto de minhas pesquisas. Coincide que Kissinger dizia usar o sexo como inspiração diplomática, inclusive em Paris na ocasião da paz no Vietnã. Outra novidade é o uso do segredo em diplomacia, em paralelo à espionagem, pelo qual pode ter tido envolvimento em Watergate.  Usou também o futebol como instrumento diplomático. Teve vertiginosa atuação junto a Mao Tse Tung, Zhou Enlai (personagem de Malraux), Le Duc To, entre israelitas e palestinos e na guerra-fria. Como premiado Nobel (1973), tem sido poupado da verdade histórica, mas hoje o vemos como inominável criminoso de guerra, pelas ditaduras no Chile, no Camboja e no Uruguai (1973), pela invasão indonésia do Timor (1975) e outros horripilantes ardis. Foi desde então que o uruguaio Mujica, extraordinária figura humana, foi torturado por 12 anos. Diante do crescente gigantismo chinês, muitos passarão a acusá-lo de seu causador, desde quando em 1971 visitou secretamente a China. Pousou o Air Force One no Paquistão e dali foi a Pequim.  Fez dezenas de outras visitas, participando de banquetes com mais de uma geração de líderes do país. No início, despistou os anticomunistas dos EUA e os antiamericanos russos e chineses, sem que nada vazasse.

Em uma roda com chamados “cientistas políticos”, em 2012, me perguntaram se eu sabia como foi a primeira conversa entre Kissinger e Mao, já que a versão do primeiro no livro ON CHINA (2011) pode não ser crível. Respondi que não sabia, mas tinha para mim o provável pensamento de Mao. O desabusado guerrilheiro considerou que os chineses inventaram o jogo de xadrez e competia aos inventores formular uma jogada vencedora, não diplomática mas econômica, tremendamente eficaz, um xeque-mate – implodindo o capitalismo por dentro. E isso aconteceu.

 

 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

 


WALTER SALLES JR & FERNANDA TORRES

João Amílcar Salgado

            Um drama vivido pelas celebridades é que sua notoriedade impacta negativamente nos filhos. Mesmo sem o estímulo específico, estes se sentem na automática obrigação de herdeiros também do talento paterno ou materno. Pior se homônimos.  Assim muitos indagam pela celebridade de algum filho de Darwin, de Freud, de Chaplin ou de Einstein. No caso do filme AINDA ESTOU AQUI, além da presença de sulmineiros, temos duas pessoas que são CELEBRIDADES FILHAS DE CELEBRIDADES. São a Fernanda e o Walter. A Fernanda é tão celebridade como sua mãe, na mesma área, e com o requinte de ser homônima e de disputar o mesmo prêmio, distante 2 décadas, e com o mesmo diretor.

            Walter Jr é celebridade mundial em direção cinematográfica e é economista e comunicador, filho do homônimo pai Walter, celebridade em finanças e no pioneirismo da exploração do nióbio mineiro. Walter pai foi advogado, banqueiro, diplomata e ministro, afinal comandante de uma das maiores fortunas do mundo, sendo que Walter filho é o terceiro cineasta mais rico, atrás apenas de George Lucas e Steven Spielberg.

            Na história da ciência, o caso mais conhecido de celebridade filha de celebridade é o de Irene Curie filha de Maria Curie: a 2ª descobriu o radium, com Nobel de química e Nobel de física, e a 1ª descobriu a radiatividade artificial, com Nobel de química. Ambas estiveram em Minas, em 1926.